O Jogo

C

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hamo-lhes jogadores com perfume. O futebol precisa deles. Os jogos ficam logo diferentes quando eles tocam na bola. Não se trata, muitas vezes, de fazer imediatame­nte a equipa jogar melhor. Às vezes até parecem que levam o jogo só para a sua cabeça. E pés. Trata-se de dar um aroma diferente de técnica que, se com um traço de visão, sobretudo no passe, marca a diferença sobre tudo. Penso nisso vendo vários jogadores. Podia falar em alguns do topo do nosso futebol. De Otávio a Brian Ruiz, pensando no primeiro clássico. Mas pensei nisso vendo o “milagre do martelo tático” de Lito Vidigal a bater no Olympiacos na Grécia e, no meio desse plano de jogo de intensidad­e tática, sobressair o perfume da técnica de Crivellaro. Como que marcando outro ritmo no jogo. Outro aroma, lá está. Não são, em geral, jogadores fáceis. Quer pelo ego que a consciênci­a desse estado superior de relação íntima com a bola, quer pela fuga, muitas vezes, ao encaixe nas obrigações do coletivo, provoca nas equipas. Crivellaro entra na minha galeria de jogadores “estilo pantera cor de rosa” (como meto a nível internacio­nal Ganso ou Pastore). Jogadores que parecem passear pelo campo, sem querer nada com o que se passa em volta, sem se quererem meter em problemas e, de repente, zás, um passe, um remate, e tudo muda. O Arouca esteve muito perto de cumprir a missão impossível. Até parecia melhor quando foi para o prolongame­nto. Sofreu, depois, o golo do empate logo a abrir e na retina ficou-me a imagem de Lito no banco, que surgiu logo a seguir em grande plano, fazendo um gesto de desagrado que a equipa devia ter metido a bola na frente rápido naquela jogada. Perdeu-a perto da sua área e deu golo. Era outra expressão de jogo, longe do perfume de Crivellaro, mas que também é necessária tantas vezes a uma equipa num jogo. Numas vezes tratar a bola para a ter por perto, noutras mandá-la para longe o mais rápido possível, como se fosse uma granada. Espero que o clássico tenha mais perfume do que granadas. É isso que, no global, faz as equipas melhores. Saber ter a bola. Sendo que, para isso, é necessário antes querer tê-la. Este Arouca transformo­u-se um pouco (dá sinais disso) neste início. Não se trata de tornarse uma equipa de posse, mas sim de evoluir na relação com ela para controlar os espaços. Crivellaro acaba por ser, neste artigo, quase como o alter-ego de uma forma de ver o futebol. Nunca será a base de uma ideia de jogo. Como os jogadores dos grandes que referi também não serão. Podia-se jogar sem eles. Mas não seria a mesma coisa. E até o perfume de melhor jogo técnico que este Arouca exibe desaparece­ria da atmosfera. Trata-se de dar um aroma diferente de técnica que, com traço de visão no passe, marca a diferença sobre tudo

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Crivellaro faz parte do lote dos jogadores que mudam um jogo

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