O Jogo

CABEÇA ABANA, MAS... NÃO DÁ PARA TIRAR O PÉ

SAÍDAS Antigos jogadores de leões e dragões assumem que o mercado pode afetar os atletas, mas afastam a ameaça de menor empenho no relvado

- RUI JORGE TROMBINHAS

O clássico de hoje pode ser o último para alguns dos intervenie­ntes de Sporting e FC Porto. Ou não. Há ainda muito em aberto e a mente dos jogadores anda numa roda-viva de treinos, jogos e... negócios

Há muito que dirigentes e treinadore­s defendem o fecho do mercado de transferên­cias mais cedo, antes do arranque das competiçõe­s nacionais, para evitar que os jogadores entrem em campo com a cabeça em palcos maiores, seduzidos pelos euros ou por desafios mais atraentes. Os pedidos, porém, têm sido em vão e esta época, tal como nas anteriores, tudo estará em aberto até às 23h59 de quarta-feira, 31 de agosto. Mas às 18h00 de hoje, em Alvalade, joga-se o clássico entre os líderes Sporting e FC Porto e vários dos que vão pisar o relvado estão ainda na lista de muitos treinadore­s por essa Europa fora.

“Isto não é defender o futebol. Fico surpreendi­do por isto acontecer ano após ano e os responsáve­is do futebol não fazerem nada. O fecho do mercado a 31 de agosto é muito prejudicia­l para os clubes”, defende Fernando Nélson. O antigo lateral-direito da Seleção Nacional e de Sporting e FC Porto, que lembra nunca ter vivido uma situação destas – “O mercado fechava mais cedo na minha altura”–, admite que possam existir dúvidas na cabeça dos jogadores. “Eventualme­nte haverá alguns que podem não estar completame­nte com a cabeça limpa. Pode mexer com eles a incerteza de ficarem ou não”, sublinha, lembrando que a forma como cada atleta reage a essa situação pode ser fundamenta­l. “Vai depender do grau de profission­alismo e da personalid­ade de cada um. Muitas vezes depende do carácter de cada jogador. Mas não acredito que alguém levante o pé, isso não. É algo que não acontece num jogo destes. Seria demasiado óbvio. Os jogadores querem dar o seu melhor.”

O mesmo defende Nuno Valente, que considera que o aproximar do fecho do mercado não vai impedir os principais jogadores de darem o seu melhor. “Não acredito que abdiquem de jogar o clássico, que façam força para não jogar, só para irem a cem por cento para o futuro clube”, diz o antigo lateral-esquerdo de leões e dragões, lembrando, porém, que um bom negócio deve ser tido em conta na hora da tomada de decisão. “Se houver boas propostas, os clubes terão de pensar nisso. Mas, no caso, há op-

“Jogadores não estão com a cabeça limpa. A incerteza mexe com eles” Fernando Nélson Treinador e antigo jogador “Quem entrar em campo, já sabe se sai ou se fica. Tem de dar o máximo”

Nuno Valente Antigo jogador de Sporting e FC Porto

ções para substituir esses jogadores. Apesar de tudo, o clássico não sairá prejudicad­o por causa disso. Quem entrar em campo já terá claro se fica ou se sai. Seja como for, terá de dar o máximo.”

Fernando Mendes, esquerdino­quetambémp­assouporam­bos os clubes que se encaram em Alvalade, enfatiza que todos vão defender as respetivas camisolas. “Já se falava de propostas para Slimani há mais de uma semana e ele fez um bom jogo em Paços. E Herrera honrou muito bem a camisola que veste no jogo em Roma. Ainda para mais havendo clássico, quem for eventualme­nte sair quererá fazê-lo pela porta grande, com uma vitória. Não haverá pressão extra por estarem na porta de saída. São jogadores que já deram muito ao clube e não é um jogo que vai deixar marca nos adeptos”, sublinha o antigo defesa-esquerdo.

Um caso extremo, como o que aconteceu com Matic em janeiro de 2014 – Jorge Jesus, no Benfica, teve de ir buscá-lo a casa para defrontar o FC Porto –, não é desejável, mas é sempre uma hipótese. “Claro que é possível algo do género acontecer. Os jogadores são adultos e responsáve­is pelas atitudes. Há muitos milhões em jogo e, às vezes, as coisas podem ir para esse lado. Mas não me parece que seja o caso”, antecipa Fernando Mendes.

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