Há negócios que saem mais caro do que a encomenda
1Quantomais tempo passa, quantos mais comunicados se trocam e quantos mais pormenores se sabem sobre todo o processo da transferência de Rafa, menos claro parece que esta tenha sido, de facto, uma batalha perdida pelo FC Porto e ganha pelo Benfica. Afinal, mais de uma semana depois de revelados aqueles que seriam os termos definitivos do negócio, o extremo continua no Braga, o preço que os encarnados se preparam para pagar por ele já sofreu várias inflações e o ruído em torno das exigências do empresário do jogador serviu para alimentar uma polémica que não serve os interesses do Benfica, nem do Braga e muito menos de Rafa.
É evidente que, depois de tudo o que se passou, Luís Filipe Vieira não se pode dar ao luxo de deixar a transferência cair e a assinatura do contrato não deverá tardar muito mais, mas o facto é que, para já, esta é a própria definição de um mau negócio: aquele em que todas as partes saem a perder. Perde Rafa, que está parado há duas jornadas numa altura em que podia muito bem estar a ganhar balanço para se afirmar na Seleção; perde o Braga, que não tem utilizado o jogador e ainda não viu a cor do dinheiro; e perde o Benfica, que ainda não pôde contar com o extremo, nem utilizar os milhões que ele vai custar para o reforço de outras posições menos apetrechadas do plantel às ordens de Rui Vitória.
E são muitos milhões. 16 pelos 90 por cento do passe que pertencem ao Braga, mais 1,6 pelos dez por cento que pertencem à Onsoccer e ainda o valor que António Araújo reclama pelos serviços de intermediação e que podem fazer o negócio disparar para muito perto dos 20 milhões previstos na cláusula de rescisão de Rafa. Um valor que, recorde-se, o FC Porto sempre se recusou a pagar e que reforça a ideia de que, bem vistas as coisas, se calhar esta foi uma batalha que Pinto da Costa não se importou de perder, deixando caminho aberto para o Benfica. Afinal, era Napoleão quem recomendava que nunca se interrompesse um inimigo quando ele está a cometer um erro.
2O apuramento para a fase de grupos da Champions, com o prestígio que lhe está associado, ou os 14 milhões de euros arrecadados, que podem chegar aos 20 com o valor relativo aos direitos televisivos, são apenas uma parte de tudo o que o FC Porto ganhou nos dois jogos realizados com o Roma. Talvez nem sequer sejam a parte mais importante, pelo menos não em termos de impacto a longo prazo. A esse nível, talvez a principal conquista da equipa que Nuno Espírito Santo ainda está a construir tenha sido a forma como conseguiu sobreviver a 120 minutos frente a um dos adversários mais poderosos do futebol europeu sem sofrer golos.
Casillas só foi batido uma vez e por um desvio infeliz de Felipe, o que significa que a defesa portista conseguiu anular o melhor ataque do último campeonato italiano, com 83 golos marcados, que antes de disputar o play-off com os portistas já tinha gasto mais de cem milhões de euros em reforços. Aliás, o mesmo ataque que, na primeira jornada da Serie A, goleou a Udinese por 4-0. Sendo importante manter presente que os italianos passaram uma boa parte da eliminatória em desvantagem numérica, seria desonesto não reconhecer a forma como tanto Felipe como Marcano eclipsaram Dzeko e companhia tanto no jogo do Dragão como, depois, no Estádio Olímpico.
Claro que ainda é muito cedo para tirar quaisquer conclusões que não sejam inevitavelmente precipitadas, mas se a consistência defensiva foi um problema ao longo dos dois anos sob a orientação de Lopetegui, é obrigatório olhar para o playoff da Champions como um bom sinal. A ser verdade que os ataques ganham jogos e as defesas campeonatos, a candidatura do FC Porto ao título parece cada vez mais consistente.