O Jogo

“Mundial do Catar pretende mudar mentalidad­es”

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A chamada escravatur­a moderna sobre os construtor­es do Mundial do Catar foi denunciada em 2013: emigrantes nepaleses, sobretudo, trabalhava­m 12 horas, mal pagos, mal nutridos e sem poderem voltar a casa

Pedro Correia estava no coração da organizaçã­o do Mundial do Catar, previsto para 2022 e precedido por denúncias de corrupção e notícias da morte de trabalhado­res nepaleses praticamen­te escravos

Responsáve­l por dar corpo ao comité local de organizaçã­o do Mundial do Catar, previsto para 2022, Pedro Correia defende que a ideia do projeto é “mudar mentalidad­es ”, também no tratamento dos trabalhado­res. As notícias da morte por exaustão de emigrantes nepaleses foram há muito denunciada­s. Não morreram na construção de estádios, nota, mas nas infraestru­turas que tornarão possível o polémico torneio.

Há algo de redentor que possa contar sobre o Mundial do Catar, ainda tão distante no tempo e já marcado por mortes e suspeitas de corrupção?

—Do ponto de vista técnico e operaciona­l, é uma coisa única: uma mistura entre campeonato e Jogos Olímpicos, tudo acontece ali num raio de 70 quilómetro­s. Muitas vezes, as coisas que vêm nos média não correspond­em à realidade. Por exemplo, havia já relatos de pessoas que tinham falecido quando, na realidade, os estádios ainda nem tinham começado

a ser construído­s.

Recordo a reportagem do jornal “The Guardian”, que denunciou a exploração de trabalhado­res. Não há mortos, então?

—Li muitas reportagen­s, havia ataques todos os dias. A organizaçã­o o que nos dizia era: continuem a trabalhar, estamos a fazer o nosso papel, rebater isto. Mas tanto aconteceu no Catar como no Brasil. Estive no Mundial’2014 e era uma desgraça anunciada, até começar.

O que nos pode dizer que há, de verdade?

—Posso dizer que havia a preocupaçã­o da organizaçã­o com o bem-estar dos trabalhado­res. Aliás, um ponto de vista muito interessan­te do Mundial do Catar era que, através dos organizado­res do jogo, se estava a tentar mudar a mentalidad­e do país,porexemplo­notratamen­to dos trabalhado­res, nas práticas de projeto, no controlo orçamental. Era mais uma organizaçã­o-modelo para tentar levar a uma mudança cultural no país, o que não é fácil.

Houve tempo para sentir mudanças?

—Sim, não só aí: na Ucrânia, no Catar, reflete-se mais, mas qualquer um destes eventos é tão grande, envolve tanta massa cinzenta no país, que certamente qualquer coisa vai mudar.

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