UM SALTO DE GARRA E FORÇA
ATLETISMO Nelson Évora foi a Belgrado mostrar que o campeão olímpico de 2008 tem muito mais para dar
Especialistas viram Évora no Europeu de pista coberta e afirmam que o triplista está muito forte mentalmente e fisicamente em forma, o que, aliado à escola cubana de Ivan Pedroso, deu em ouro
bbb Em Belgrado, Nelson Évora
saltou na final do Europeu de pista coberta 17m20 e conquistou a medalha de ouro. Foi a primeira desde que treina e vive em Espanha, orientado pelo cubano Ivan Pedroso. O JOGO tentou saber o que mudou no salto do campeão olímpico que, aos 32 anos, procura manter-se no topo. “O Nélson treina com um antigo saltador em comprimento e um dos melhores de sempre e normalmente a escola cubana tema corrida de balanço um pouco mais saltada, mas, em relação à técnica, não consigo precisar se mudou muito. O que percebemos é que, mais do que a técnica, houve um trabalho de motivação”, analisou Pedro Pinto, técnico nacional de salto, anotando ainda: “Saltou 17m20, o que foi uma coisa espetacular. O salto em si não foi tecnicamente dos melhores, mas foi eficiente e um salto de garra e de força.” Esclarecedor, Pedro Pinto realçou: “Ele fez uma chamada na tábua muito boa, aproveitou quase toda a tábua e, na fase em que salta na mesma perna, depois passa para a outra e a seguir faz salto final, ele conseguiu manter a velocidade. Não houve perda nas diferentes fases. No passado estava a ter perdas de velocidade e dinâmica e naquele salto ele conseguiu manter.”
Orlando Fernandes, ex-triplista e biomecânico com trabalhos internacionais de análise ao triplo salto, também deu a sua opinião. “A corrida do Nelson está diferente; vê-se que está mais apoiado, há uma frequência maior”, disse. “Há três tipos de saltadores: os hoppers, em que a percentagem do primeiro salto ésuperior,é um saltador em força; depois há os jumpers, em que o último salto é maior; e o natural, em que os saltadores fazem em média os três saltos iguais. O Nelson sempre foi um jumper, sempre quis procurar no primeiro salto o grande trunfo”, explicou o biomecânico, que viu a prova na televisão e teve de se guiar apenas pelas imagens que foram transmitidas. “A televisão não deu os saltos todos, mas nestes alto[17m 20], ele aguenta as três fases do salto, parecendo um saltador natural eavant agem deleéa distribuição muito igual; 6m15 no primeiro e 6m16 no último. Teve uma corrida muito apoiada, uma entrada a arriscar, um segundo salto muito forte e, face ao que tinha menos bom quando iniciava o terceiro salto, aguentou bem e fez um terceiro salto muito bom”, pormenorizou.
Tanto para Orlando Fernandes como para Pedro Pinto a mudança para Espanha terá influenciado sobretudo o lado mental. “Terá obrigado o Nelson a criar novos desafios e objetivos e a ter necessidade de querer mostrar as suas qualidades. Às vezes, os cortes são importantes, porque na cabeça do atleta, que leva toda a vida com o mesmo treinador, também se dá a questão: será que com outra pessoas consigo fazer melhor ou diferente?”, referiu Pedro Pinto. “O Nelson não tem de provar nada a ninguém, mas a forma como se apresentou perante o salto, a atitude de concentração chamou-me a atenção”, sublinhou Orlando Fernandes.
Pedro Pinto, ao pensar no que pode Évora fazer mais à frente na época, afirmou: “Ele é um animal de competição e continua a pertencer ao grupo de elite do triplo salto mundial, por isso tudo é possível. O Mundial, por exemplo, será outro dia, outra história e a concorrência mais elevada.”
Olhando ao futuro, Orlando Fernandes considerou: “Os saltadores têm uma durabilidade enorme e olhe-se para o italiano que foi segundo [Fabrizio Donato], que tem 40 anos. Por isso, o Nelson, que está com uma grande vontade, sendo muito bom tecnicamente, tem garantias de mais anos.” Já Pedro Pinto acrescentou: “A experiência dele conta muito. Veja-se o alemão que deu cartas nas eliminatórias e na final não conseguiu repetir. É muito difícil fazer dois dias seguidos ao mais alto nível. O Nelson sempre esteve forte nos momentos mais importantes e voltou a estar.”