O Jogo

“Depois do Giro decido se vou ao Tour”

Rui Costa em entrevista

- CARLOS FLÓRIDO

“A minha preparação não mudou muito, foi mais o calendário, que troquei o francês pelo italiano”, deixa Rui Costa claronacon­versacomOJ­OGO. Terá mudado a sorte “e vencer logo a abrir, na Argentina, foi importante para aumentar a motivação; foi aquele clique”. Já com três triunfos, o poveiro é um dos mais bem sucedidos no ano em que a sua equipa passou por um sufoco ao perder o patrocínio da Lampre – “fiquei sempre tranquilo, garanto” –, para se entusiasma­r ao passar a ser a equipa dos Emirados Árabes Unidos e da companhia aérea Emirates, com o objetivo de ser uma das maiores do mundo. Que significou vencer a Volta a Abu Dhabi? —Foi muito importante, pois agora isso significa ganhar em casa. É um país que apostou no ciclismo e deu confiança ao grupo. Tendo figuras como Nairo Quintana, Alberto Contador e Vincenzo Nibali no pelotão, ia a pensar vencer? —Sinceramen­te, não. Tínhamos apontado para ali, mas nuncaganha­raumaprova­com tantas caras conhecidas. Levava a ideia de ser engraçado comparar a forma física com todos eles. Acabou por ser vantajoso correr frente a tantos nomes sonantes. Psicologic­amente foi importante, uma vitória assim é uma motivação. Que mudou em relação ao ano passado? —Faltava-me a ponta de sorte! Mas o que passou passou. É assim que encaro as corridas. Mesmo tendo agora estas vitórias, começo logo a pensar no que vem a seguir. No ano passado fiz o mesmo. Chegou a ser desmotivan­te ser tantas vezes segundo? —Quando se trabalha muito por uma vitória, se está perto e as coisas não saem… Gosto de ganhar, que isso dá motivação. Mas não fiquei desmotivad­o. Ficou arreliado?

—Foi mais isso. Agora, corre no Team Emirates. Os árabes gostam de ciclismo? —Há dois ou três anos, diria que não. Mas nos últimos tempos, e pelas pessoas que nos rodeiam, percebo o entusiasmo e o gosto pelo projeto. Eles estão muito felizes. A minha vitória veio ajudar, percebendo-se que gostaram. Continua a não se ver público nas estradas… —A explicação do que ali se passa está nos últimos anos. A bicicleta passou a ser um acrescento de “status”. Eles apreciam a bicicleta até de um ponto de vista estético e as grandes marcas têm contribuíd­o para isso. Aos árabes o dinheiro não falta e uma nova extravagân­cia passou a ser ter bicicletas de topo, grandes máquinas. Além de carros, como Ferrari, agora apreciam uma grande bicicleta. Que mais surpreende em Abu Dhabi? —Os edifícios. É uma cultura e uma religião diferente, mas é um país muito organizado e gosto disso. Podem considerar que é artificial, mas a realidade é que se vê estar tudo construído de forma bem pensada. O Rui já chegou a passear com grandes personalid­ades? —Conheço bem o Matar Al Dhaheri, que é o patrão. É uma pessoa muito tranquila, que sabe o que quer. Apostou muito na equipa e quer vitórias. Ele diz que quer ter uma das três melhores equipas do mundo… —Quando se tem capital, como acontece em Abu Dhabi, é uma possibilid­ade. E entusiasma. Temos tudo para crescer. O patrocinad­or surgiu já muito em cima da época e creio que com mais um ou dois anos haverá potencial para entrar pelo menos entre as cinco melhores. Agora, vai correr o TirrenoAdr­iático. Será um teste para a Volta a Itália? —Vou um bocado preocupado, porque me constipei. Não será um teste, a preparação será depois desta corrida e já com as clássicas. Nas grandes clássicas tem pódios, mas falta-lhe uma vitória...

“Aos árabes o dinheiro não falta e uma nova extravagân­cia passou a ser ter bicicletas de topo, grandes máquinas” “Para vencer faltava-me a ponta de sorte! Mas o que passou, passou. É assim que encaro as corridas” “Gostava de fazer o Tour. Mas só depois do Giro se decidirá”

—Falta, mas há mudanças, sobretudo na Amstel Gold Race, que acaba numa zona plana e será para corredores como o Sagan ou o Matthews, que são rápidos e dão-se bem nas subidas curtas. Uma vitória numa grande clássica é um objetivo de carreira? —Gostava de um dia poder ganhar uma. Sejam as das Ardenas ou a Lombardia, são corridas que me fascinam.

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