“Depois do Giro decido se vou ao Tour”
Rui Costa em entrevista
“A minha preparação não mudou muito, foi mais o calendário, que troquei o francês pelo italiano”, deixa Rui Costa claronaconversacomOJOGO. Terá mudado a sorte “e vencer logo a abrir, na Argentina, foi importante para aumentar a motivação; foi aquele clique”. Já com três triunfos, o poveiro é um dos mais bem sucedidos no ano em que a sua equipa passou por um sufoco ao perder o patrocínio da Lampre – “fiquei sempre tranquilo, garanto” –, para se entusiasmar ao passar a ser a equipa dos Emirados Árabes Unidos e da companhia aérea Emirates, com o objetivo de ser uma das maiores do mundo. Que significou vencer a Volta a Abu Dhabi? —Foi muito importante, pois agora isso significa ganhar em casa. É um país que apostou no ciclismo e deu confiança ao grupo. Tendo figuras como Nairo Quintana, Alberto Contador e Vincenzo Nibali no pelotão, ia a pensar vencer? —Sinceramente, não. Tínhamos apontado para ali, mas nuncaganharaumaprovacom tantas caras conhecidas. Levava a ideia de ser engraçado comparar a forma física com todos eles. Acabou por ser vantajoso correr frente a tantos nomes sonantes. Psicologicamente foi importante, uma vitória assim é uma motivação. Que mudou em relação ao ano passado? —Faltava-me a ponta de sorte! Mas o que passou passou. É assim que encaro as corridas. Mesmo tendo agora estas vitórias, começo logo a pensar no que vem a seguir. No ano passado fiz o mesmo. Chegou a ser desmotivante ser tantas vezes segundo? —Quando se trabalha muito por uma vitória, se está perto e as coisas não saem… Gosto de ganhar, que isso dá motivação. Mas não fiquei desmotivado. Ficou arreliado?
—Foi mais isso. Agora, corre no Team Emirates. Os árabes gostam de ciclismo? —Há dois ou três anos, diria que não. Mas nos últimos tempos, e pelas pessoas que nos rodeiam, percebo o entusiasmo e o gosto pelo projeto. Eles estão muito felizes. A minha vitória veio ajudar, percebendo-se que gostaram. Continua a não se ver público nas estradas… —A explicação do que ali se passa está nos últimos anos. A bicicleta passou a ser um acrescento de “status”. Eles apreciam a bicicleta até de um ponto de vista estético e as grandes marcas têm contribuído para isso. Aos árabes o dinheiro não falta e uma nova extravagância passou a ser ter bicicletas de topo, grandes máquinas. Além de carros, como Ferrari, agora apreciam uma grande bicicleta. Que mais surpreende em Abu Dhabi? —Os edifícios. É uma cultura e uma religião diferente, mas é um país muito organizado e gosto disso. Podem considerar que é artificial, mas a realidade é que se vê estar tudo construído de forma bem pensada. O Rui já chegou a passear com grandes personalidades? —Conheço bem o Matar Al Dhaheri, que é o patrão. É uma pessoa muito tranquila, que sabe o que quer. Apostou muito na equipa e quer vitórias. Ele diz que quer ter uma das três melhores equipas do mundo… —Quando se tem capital, como acontece em Abu Dhabi, é uma possibilidade. E entusiasma. Temos tudo para crescer. O patrocinador surgiu já muito em cima da época e creio que com mais um ou dois anos haverá potencial para entrar pelo menos entre as cinco melhores. Agora, vai correr o TirrenoAdriático. Será um teste para a Volta a Itália? —Vou um bocado preocupado, porque me constipei. Não será um teste, a preparação será depois desta corrida e já com as clássicas. Nas grandes clássicas tem pódios, mas falta-lhe uma vitória...
“Aos árabes o dinheiro não falta e uma nova extravagância passou a ser ter bicicletas de topo, grandes máquinas” “Para vencer faltava-me a ponta de sorte! Mas o que passou, passou. É assim que encaro as corridas” “Gostava de fazer o Tour. Mas só depois do Giro se decidirá”
—Falta, mas há mudanças, sobretudo na Amstel Gold Race, que acaba numa zona plana e será para corredores como o Sagan ou o Matthews, que são rápidos e dão-se bem nas subidas curtas. Uma vitória numa grande clássica é um objetivo de carreira? —Gostava de um dia poder ganhar uma. Sejam as das Ardenas ou a Lombardia, são corridas que me fascinam.