O INTERIOR DÁ UMA AJUDA
Alvarenga é uma freguesia do concelho de Arouca, famosa pelos bifes suculentos. O seu clube de futebol militava nos escalões distritais, mas há dois anos transformou-se em SAD e tudo mudou ALVARENGA Clube vizinho de Arouca tornou-se numa ponte para joven
O plantel é composto, quase a 50%, por estrangeiros. São nove os brasileiros, maioritariamente na casa dos 20 anos, e há ainda um venezuelano. Foram para o Grupo Desportivo Santa Cruz de Alvarenga à procura do sonho de serem profissionais e representar grandes emblemas do futebol mundial.
“Estava no Barcelona de São Paulo, na terceira divisão do campeonato paulista. Apresentaram-me o projeto e fiquei interessado. Disseramme que havia a oportunidade de chegar a divisões superiores. Quero chegar ao topo, jogar com os melhores, na primeira divisão de qualquer clube, na Europa.” A afirmação é de Milton Neri, médio de 22 anos,masretrataopensamento de todos. Ainda mais agora que o Alvarenga transferiu, por empréstimo, em janeiro, dois jogadores brasileiros para o Chennai City Football Clube, da I Divisão da Índia. Neste caso, confia-se que os atletas mostrem as qualidades adquiridas na passagem pelo clube e, no final da temporada, se efetue a transferência, com dividendos para o emblema português.
A ideia começou com Marcos Rodrigues, natural de Alvarenga, mas radicado no Brasil. Acompanhava o irmão e o sobrinho, futebolista, nas reuniões com clubes e empresários e viu muitos jovens serem enganados por quem “brincava com os sonhos deles”. Era aliciado a ajudar os filhos dos amigos, com os contactos que tinha em Portugal, fruto das visitas anuais que fazia à ‘terra’, para lhes encontrar um clube. Um dia, trouxe vídeos do Kelvin, ex-FC Porto, e do Élvis, que esteve no Benfica B em 2012. Não conseguiu ajudá-los, apesar da qualidade dos atletas.
“Aí falei, ‘pocha’, vamos tentar. E propus trazer jogadores para o Alvarenga. Foi quando comecei a correr atrás de algum investidor e falei com o Nélson [n.d.r Nélson Mota, presidente do clube]. Ele pôs algumasobjeções,porqueestá a trabalhar em Viseu, tem lá o restaurante dele, mas acabou por aceitar. Expliquei-lhe que, em vez de trazer material dos jogadores para cá, trazia os jogadores, evitava terem de ir ao Brasil atrás deles. Já têm a documentação tratada e é mais fácil seguirem para outra equipa na Europa”, explica Marcos, o vice-presidente da SAD do Alvarenga.
O projeto começa agora a dar os seus primeiros frutos. A equipa subiu, no final da última época, para a I divisão distrital e pode não ficar por aqui.
“Não podemos ambicionar muito a curto prazo, mas queremos em três ou quatro anos chegar aos campeonatos nacionais, que são a montra certa para a qualidade dos jogadores”, afirma Nélson Mota, o líder da SAD, acrescentando que tem vários clubes atentos aos seus atletas. O trabalho do clube não se limita a transferir jogadores de uns países para os outros. Há pedagogia no treino.
“Precisam de um ou dois meses para eles terem noção do futebol europeu. São miúdos e não estão habituados a este futebol,queémaislento,mais apoiado,maistécnicoemenos tático, menos físico. Compete-me a mim fazê-los evoluir. Com este naipe de jogadores, trabalho duas vezes por dia, porque são profissionais e estão a viver só para isto. São jovens, na casa dos 18, 19 e 20 anos, o que me facilita a tarefa porque acreditam no projeto, sabem que têm visibilidade e estão atentos ao trabalho deles”, explica Pedro Costa, o treinador da equipa, antigo profissional de futebol, e de quem também se fala nesta trabalho.
O técnico admite que a saída dedoisatletasemjaneiro“perturbou” outros “que também ambicionavam isso”, mas tenta “fazê-los acreditar que ainda é possível. Têm de fazer o sacrifício de mais três meses até final da época para tentarem a sua sorte”.
MARCOS RODRIGUES, VICE PRESIDENTE DA SAD,
FOI QUEM TEVE A IDEIA DE INVESTIR EM JOVENS BRASILEIROS, VALORIZÁ-LOS E, AO MESMO TEMPO,
AJUDAR AO CRESCIMENTO
DO CLUBE