O Jogo

FALTA PEDAL À ÁGUIA

Analistas explicam derrota de Dortmund com a fraca intensidad­e para altos voos

- PEDRO MIGUEL AZEVEDO

Nos dois jogos contra o Dortmund, o Benfica permitiu 27 remates à sua baliza; em 2015/16, já nos “quartos”, o Bayern disparou 31 vezes

Manuel José, Daúto Faquirá, António Simões e António Figueiredo não apontam o dedo a Rui Vitória e à sua estratégia para o jogo em Dortmund; falam, sim, numa pressão que a equipa não contornou

A partida entre Benfica e Dortmund, que terminou com 4-0 para os alemães na segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões e ditou o afastament­o das águias da prova, pôs a nu a diferença de andamento ent reequipas lusas e germânicas.Embora comum desempenho menos apagado do que o da Luz, onde a equipa de Rui Vitória venceu, ainda assim, por 1-0, os encarnados foram atropelado­sdurante a segunda parte por uma onda amarela cavalgada por Aubameyang, autor de três golos. Tal como já acontecera nos “oitavos” da época passada (Bayern), o carrasco do Benfica veio da Alemanha, o que não espanta o técnico Manuel José.

“As equipas portuguesa­s não têm como competir contra adversário­s desta agressivid­ade e intensidad­e, tanto defensiva como ofensiva. O Benfica aindatento­u, no início, fazer pressão alta, mas a diferença era grande”, afirmou o treinador a O JOGO. Manuel José entende que “o primeiro jogo, na Luz, deixou marcas, pois os jogadores perceberam que só tinham ganho devido a um santinho”. “A equipa sofreu uma pressão enorme e não a conseguiu ultrapassa­r”, acrescento­u. Outro técnico, Daúto Faquirá, faz idêntica leitura e acrescenta que “o lapso no primeiro golo acontece porque, em Portugal, Nélson Semedo não encontra jogadores com o nível de intensidad­e de Aubameyang”. “O que foi anormal foi este ter desperdiça­do tanto na primeira mão”, frisa.

É de intensidad­e, ou da falta dela, que António Simões também fala quando olha para o que se viu em terras alemãs. “Em Portugal, temos cultura de jogo, qualidade de jogadores,de técnicos, mas temos um grande desafio, que é conseguir competir por mais tempo. Em Portugal, o Benfica só faz

quatro ou cinco partidas por ano com esta intensidad­e e este não é um problema do Benfica, mas sim da liga portuguesa”, afirma o ex-jogador dos encarnados. Pegando na ideia de um eventual cansaço. António Figueiredo, antigo dirigente das águias, reconhece que o Benfica atual pressiona mais atrás. “A equipa está a sofrer muitos golos que não são por culpa de Ederson. Na época passada, o bloco defensivo jogava mais à frente do que agora. Os jogadores do Dortmund chegavam sempre primeiro à bola, pressionar­am desde o início ao último minuto”, diz. Daúto Faquirá aprofunda: “Luisão, por exemplo, sabe o momento de recuar, de cortar passes em profundida­de, mas aos 35 anos já não tem a mesma capacidade física. Mas issoé natural, poisa veloci da deé algo quedes aparece como tempo .” Já António Simões sente que“nos dois últimos meses o Benfica parece ter perdido dinâmica e alguns jogadores que podiam trazer capacidade criativa não o estão a fazer e estão a jogar muito pouco.” “A arte e o talento ganham mais vezes, mas, se falta dinâmica aA, B ou C, toda a equipa paga a fatura”, diz.

A análise destes quatro inquiridos é sustentada pelos números do duplo embate com o Dortmund, sobressain­do que o Benfica consentiu 27 remates nesta eliminatór­ia (13 na Alemanha, 14 na Luz), valores apenas superados na fase de grupos pelo Nápoles (28) e, nos oitavos de final da época passada, pelo Bayern (31, com 15 tiros em Munique e 16 em Lisboa). Com os quatro golos de quarta-feira, a equipa de Rui Vitória leva já 34 sofridos em todas as provas até agora, registo que não era tão mau desde 2011/12, quando as águias, em período homólogo, permitiram 37 tiros certeiros.

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