Miguel Leal: “Europa exige outra solidez”
O Boavista venceu barreiras e está hoje confortável na I Liga. Há quem fale em regressar às competições europeias. Não é essa a ideia de Miguel Leal, o treinador que reergueu o clube do Bessa, mas...
Formado em Psicologia, com o curso de Educação Física, Miguel Leal sabia que um dia a paixão pelo futebol – que vem desde as ruas em que jogava no Marco de Canaveses como outros meninos humildes – ia sobrepor-se até às vicissitudes da vida, como se conta nesta entrevista em exclusivo a O JOGO. O treinador já não é aquele desconhecido que surpreendeu ao colocar o Penafiel na I Liga, nem aquele que aguentou o Moreirense na I Liga; aos 51 anos, é o treinador quedeudireitoaosboavisteiros de sonharem em definitivo com o regresso a um passado glória. É bom conhecê-lo melhor. Quando chegou, em outubro, o Boavista não estava a passar um bom momento. Hoje, está confortável. Qual foi o segredo? —O segredo está no trabalho, na dedicação, na estrutura que nos deu apoio e contribuiu para que tudo continuasse a correr bem. Mas houve também a aceitação dos jogadores, a entrega e o espírito de superação. De dia para dia melhorámos o que era preciso, nomeadamente no plano defensivo. A massa associativa deu um forte apoio. Houve uma junção de várias forças que permitiram chegar mais cedo ao nosso objetivo. Haviamuitacoisamalquando chegou? —Quem me antecedeu estava com certeza a fazer o melhor. Não vou julgar, até porque não estava cá. Fomos estabelecendo etapas e tentando vencê-las como numa prova de ciclismo. Com mais qualidade tínhamos mais hipóteses de ganhar. Ainda há poucos dias ganhámos 3-0 ao Marítimo, fizemos um belo jogo, que nos deixou felizes, mas no treino a seguir estivemos a analisar o que podíamos ter feito melhor. A evolução só acontece quando há preocupação de melhorar. Ganhou um novo problema. Agora, já muitos falam em Europa... —A Europa não é questão. O Boavista é a equipa com um dos orçamentos mais baixos da I Liga. Ninguém esperaria que chegássemos aqui. A equi-
pa está a crescer, mas para se chegar a uma Liga Europa sem ter de pagaraf atura na épocas eguinte,épre ciso mui tomais. Face às obrigações financeiras, o clube trabalha para ganhar sustentabil idade e não ter pressão no dia adia. É difícil. Esses passos têm de ser tranquilos. O clube tem um passado histórico e por aí não há dúvidas que tem condições para voltar às competições europeias, mas é necessário que estejam ais sólido.Com tempo, com paciência, poder-se-á falar nisso.
E se a Europa acontecer? —Estaremos cá para trabalhar. Os jogadores são capazes de ir mais além. Às vezes somos nós próprios que limitamos as nossas ambições. Se a Europa surgir, será um gosto e cá estaremos para responder, mas não gosto de falar nisso. Estamos num momento ma- ravilhoso e queremos vivê-lo intensamente. A administração do clube deu-lhe tudo o que pretendia? —Dentro do que era possível, deu tudo. Não sou daqueles que pensam que só o treinador é quem decide. Fizemos uma listagem dos jogadores que estavam disponíveis e que podiam ser mais valias para o clube, talvez tenha falhado uma ou outra possibilidade. Conhecemos e compreendemos as limitações, mas os jogadores que vieram deixaram-nos satisfeitos e encaixaram bem naquilo que é a cultura do clube. Dentro do orçamento, foram reforços importantes. Aqui e ali podíamos ter feito feito uma ou outra escolha para outras posições, mas se calhar não apareceu o jogador certo dentro do perfil traçado.
“Fomos estabelecendo etapas e tentando vencê-las, como numa prova de ciclismo. Com mais qualidade tínhamos mais hipóteses de ganhar”
Miguel Leal Treinador do Boavista “Para se chegar à Liga Europa sem se pagar a fatura na época seguinte é preciso muito mais” “Qualquer treinador, para ter sucesso, precisa de se identificar com a cultura do clube, com a cidade e com os adeptos” “Dentro do que era possível, [a administração] deu tudo]. Não sou daqueles que pensam que só o treinador é quem decide”