O Jogo

BURA: NO PRINCÍPIO ERA GUARDA-REDES

Expulsão do titular da baliza, a seis minutos do fim do jogo de rivais com a Académica, devolveu o central ao lugar de que mais gostava, em miúdo

- MÓNICA SANTOS

Quando se jogava à bola nas vielas do Corpo Santo, em Leça da Palmeira, nem se discutia quem ia à baliza. Bura queria ser guardarede­s, como o avô e o pai, no entanto, só anteontem deu corpo à tradição

O clássico das Beiras, que o Académico de Viseu ganhou à Académica (2-1), em Coimbra, e compromete­u as contas da subida da equipa de Costinha, acabou com um defesacent­ral na baliza dos visitantes. Durante seis minutos, Bura, 28 anos, viu-se no lugar onde, em miúdo, sonhava fazer carreira e até teve a oportunida­de de sair a um cruzamento que o levou à marca do penálti para socar a bola e afastar para longe a pressão da Académica, como um verdadeiro guarda-redes. O titular, Rodolfo Castro, fora expulso, aos 90 minutos, por alegada demora na reposição da bola em jogo. Deu-lhe um jeitinho mais, e o árbitro Carlos Cabral, que já o advertira aos 77’, mostrou-lhe o vermelho. Até os jogadores da Académica ficaram surpresos com a decisão do algarvio. No Académico de Viseu, com as substituiç­ões esgotadas, foi preciso decidir depressa. Bura não foi a primeira opção. Um central alto, experiente, era importante para aguentar as bolas despejadas para a área pela a Académica. O que fez a diferença na decisão do treinador foram as origens de Bura: o defesa, natural de Leça da Palmeira, cresceu numa família de guarda-redes e os primeiros anos da carreira passou-os entre os postes, tal como havia visto ao avô e ao pai. Da geração seguinte, porém, apenas o irmão seguiu a tradição, até acabar carreira, há uns anos, na baliza do Salgueiros 08. Bura, que sonhava ser guarda-redes, viu-se deslocado para a frente por volta dos dez anos. Vestia a camisola do Leixões e, um dia, a equipa estava curta. Faltou alguém e foi preciso enviar um guarda-redes para a frente. Coube-lhe a ele, que ainda precisou de bastante tempo para se habituar à ideia. Ia para os treinos com o equipament­o de guarda-redes, mas passaram a adiantá-lo no terreno e assim se fez um defesa-central, com carreira nas seleções jovens e no escalão principal, até que, ao segundo ano no Académico de Viseu, uma decisão do árbitro o devolveu às origens. Foram seis minutos de sonho, por todos os motivos e mais esses três pontos roubados ao rival.

 ??  ?? Bura não estranhou de todo a baliza do Académico de Viseu
Bura não estranhou de todo a baliza do Académico de Viseu

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal