Mourinho, O Calmo, depois de ser O Especial e O Feliz
Treinador do Manchester United deu uma grande entrevista à “France Football” e tentou passar uma nova imagem
José Mourinho explicou o quanto é diferente a concorrência em Inglaterra e na Alemanha, revelou a razão que o levou a contratar Ibrahimovic para o United e também falou de si próprio
José Mourinho escolheu a revista bissemanal “France Football” para publicitar a autoatribuição de uma nova alcunha. Garante o treinador que agora se transformou no “Calm One” (O Calmo), depois de na chegada ao Chelsea (2004), após os múltiplos triunfos alcançados no FC Porto, se ter anunciado como “Special One” (O Especial), epíteto que foi mantendo até regressar a Stamford Bridge, após passagens por Inter de Milão, clube no qual voltou a ser campeão europeu, e Real Madrid, onde pôs fim à hegemonia do Barcelona de Guardiola. Ao regressar ao Chelsea, nove anos após a estreia, escolheu nova alcunha: “Happy One” (O Feliz), porque estava de regresso a casa e era mais um entre os muitos adeptos do clube. Fora ele quem lhe dera dois campeonatos seguidos após 50 anos de jejum. A segunda aventura durou duas épocas e meia, sendo depois chamado pelo Manchester United, onde teria projetado entrar três anos antes (exatamente quando voltou a ser contratado pelo Chelsea). Ocupando o lugar que pertenceu a Alex Ferguson durante 26 anos e esteve quase à deriva nas três épocas seguintes, José Mourinho pretende uma nova marca. Para já tem passado uma imagem mais calma e ponderada.
Passemos às palavras do próprio. Por temas.
Um novo eu
“Mourinho, o homem, a pessoa, é o contrário do treinador. Tenta ser discreto, tranquilo e encontrar uma forma de desconectar. Posso ir para casa e não ver um jogo de futebol, não pensar em futebol. Posso fazê-lo. No início da minha carreira não podia. Estava conectado de forma permanente, 24 horas por dia. Hoje, sinto-me bem com a minha personalidade. Amadureci, estou mais tranquilo. Uma vitória já não representa a lua e uma derrota um inferno. Penso que sou capaz de transmitir esta serenidade aos que trabalham comigo, aos meus jogadores. Tenho a mesma ambição de antes, isso sim. A mesma dedicação, o mesmo profissionalismo. Mas controlo mais as minhas ambições”, explicou.
Personalidades
Mourinho também abordou a forma como comanda as equipas. “É preciso adaptação à realidade do clube, às suas necessidades; chama-se ser inteligente. A prioridade é estabelecer relações de paz e amor num grupo para criar estabilidade. No Manchester United, já não há superpersonalidades como Giggs, Scholes ou Roy Keane. Hoje há Rooney e Carrick, as últimas caras dessa geração. Por isso era importante para mim contratar o Zlatan [Ibrahimovic], que, sem ser inglês, sem conhecer a cultura do clube, com a sua personalidade e perfil pode ser algo mais do que um simples jogador”, afirmou.
Concorrência
“Em Inglaterra, os clubes são igualmente poderosos em termos económicos, o mercado está aberto a todos. Peguemos no exemplo do Bayern na Alemanha. Sabem quando começa a ganhar o título a cada ano? Quando no verão anterior compra o melhor jogador do Borússia Dortmund. Goetze, depois Lewandowski no ano seguinte, a seguir Hummels no ano passado. Eu cheguei a um clube que tem uma grande e prestigiada história, mas que não pode comportar-se da mesma maneira. Nenhum clube em Inglater- ra, seja Manchester United, Liverpool, Manchester City, consegue dominar de forma permanente. O poder é dividido. Tudo é mais difícil: comprar, ganhar, construir.”
O método
“De um ponto de vista psicológico, quanto mais empatia existir mais forte é o grupo, mais a relação entre os jogadores é consistente. E aí estamos prontos. O ‘jogo do espírito’, que consiste em tentar manobrar alguém psicologicamente através dos média, é uma forma de criar um estado de espírito, mas é mais eficaz quando se tem uma equipa cheia de personalidades prontas para absorver esse tipo de conversa. No Inter, estava como peixe na água nesta matéria. Tinha Materazzi, Córdoba, Ibrahimovic, Milito, Thiago Motta... eles estavam dispostos a seguir-me para todo o lado. É outra coisa trabalhar num clube onde os jogadores não têm o mesmo perfil. Portanto, antes de seguir numa direção, devemos primeiro compreender as pessoas com quem trabalhamos.”