O Jogo

A paciência da... velocidade

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Há equipas que parecem crescer a defender pela forma como fazem a explosão demográfic­a à frente da sua baliza, mas quando o adversário não confunde a velocidade de jogo com jogar depressa, toda essa população começa a ter dificuldad­es em respirar à medida que o nível do jogo sobe. O Marítimo de Daniel Ramos é das melhores equipas do campeonato a defender por ideologia em bloco baixo, mas este Benfica, sobretudo na versão vertigem ofensiva da Luz, raramente cai nesse erro. Sabe manter a paciência da... velocidade.

Mesmo que o golo não apareça logo, o adversário raramente sente que está a fazer crescer a ansiedade, porque o jogo nos últimos 30 metros não muda. O problema deste modelo de Daniel Ramos é muitas vezes, nestas situações, não conseguir retirar a equipa dessa caverna em que intenciona­lmente se enfia. É então o adversário, pensando nesta dimensão de confronto com equipas grandes, a descobrir como arrombar esses cadeados.

Nestas fases, a cristaliza­ção do modelo de jogo do Benfica não se sente, já que o jogo fica exatamente na medida certa para o aplicar. Não necessita da burocracia elaborada da construção do meio-campo; necessita, sim, da vertigem permanente da definição ofensiva, pelas faixas (com laterais+extremos) e com um ponta de lança animal de área (Mitroglou) e um segundo-avançado (Jonas) que, neste tipo de jogos, pode atacar a baliza como fosse outro n.º 9 puro.

Desta forma, o Benfica empurrou a caverna tática do Marítimo até partir toda a sua pedra defensiva, fazendo três golos colados uns aos outros, na parte final da primeira parte, quando a população defensiva insular já perdera o oxigénio tático para respirar, por não sair de debaixo de água (da sua área) durante tanto tempo.

Com a segurança do resultado, as questões táticas encarnadas de que tanto se falou noutros jogos (como no anterior, com o Moreirense) deixam de se colocar, mas não deixam de existir. O jogo é que não as coloca. Por isso, muitas vezes só nos jogos mais atados e nas exibições mais cinzentas uma equipa aprende consigo própria por onde tem de evoluir. Este campeonato, porém, pela diferença que há entre as equipas, tanto faz como desfaz rapidament­e essas ilusões de poder ou fraquezas.

As últimas seis “finais” têm níveis de exigência diferentes e, em função disso, os jogadores não olham para os jogos da mesma forma. Perceber as perguntas táticas diferentes que cada adversário faz é chave para ambos os grandes candidatos (Benfica e FC Porto) darem as melhores respostas dentro do seu modelo de jogo.

O tempo de inventar coisas novas para o jogar coletivo já acabou há muito. Esta é a altura de expressar tudo o que se aprendeu durante a época.

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Benfica teve paciência para contornar a muralha madeirense

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