O Jogo

Retrato-robô do grande artista

- Jacinto Lucas Pires

Isto para dizer que Rafa apareceu na

altura certa.

Os grandes artistas são assim, dizem “presente!” quando é preciso. Se a equipa lhe seguir as pistas,

chegaremos lá

O“criminoso é o artista criativo; o detetive é somente o crítico”, escreve Chesterton num dos seus misterioso­s (no sentido de maravilhos­os) contos policiais. Com a vossa permissão, queridos leitores, pego na analogia pelo avesso para a usar aqui. Não é que queira fazer criminosos dos artistas da bola, é só que me vou armar em detetive por umas linhas para tentar revelar o retrato completo de um craque subvaloriz­ado. Sim, claro, estou a falar desse artista que não carece de apelido ou nome — basta-lhe um diminutivo como a tantos grandes ídolos: Rafa! Depois do jogo de sexta com o Marítimo, não era difícil descobrir a personagem da crónica, não é verdade? Também nisso, este textinho de hoje é um exercício de pernas para o ar. Trata-se, não de descobrir um “artista” a quem atribuir a “obra”, mas antes de sistematiz­ar as “pistas” depois do facto, na esperança de iluminar um pouco melhor o génio por trás da “arte”.

Uma análise moderna, científica, olha para Rafael Ferreira Silva e grita, gelidament­e: nenhum golo!, tanta oportunida­de falhada nos últimos jogos!, muita parra e pouca uva! E, pois, é um facto que Rafa não marcou no 3-0 ao Marítimo. Mas, depois desse jogo pascal, a análise gélida já não é apenas errada, é feia e injusta.

O primeiro golo do Glorioso, aliás, só não foi dele no registo das formalidad­es. Porque se o pé literal que empurrou a bola para as redes marítimas foi o do infeliz defesa Martins, não foi outro senão Rafa quem inventou tudo até esse instante.

É uma alegria para um detetive de obras de arte futebolíst­icas olhar para o oito que o craque do Benfica fez ao lateral do Marítimo. Agora vou por aqui, afinal vou por ali, viro para acolá, tchauzinho, já fui. Depois, com a parte mais maliciosa da chuteira, faz um daqueles passes picantes, capazes de incendiar a pequena área. Calhou ao pobre defesa do Marítimo ter lá o pé, mas aquela bola haveria de entrar de qualquer maneira.

Claro que ajuda ter bons cúmplices. Passado pouco tempo, Rafa cria na esquerda uma ideia de perigo, dois “polícias” caem sobre ele e o artista larga o tesouro no momento certo. Rapidíssim­o, e a toque de Pizzi, Jonas lança-o para o cofre-forte dos três pontos.

Isto para dizer que Rafa apareceu na altura certa. Os grandes artistas são assim, dizem “presente!” quando é preciso. Se a equipa lhe seguir as pistas, chegaremos lá, caros amigos.

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