O Jogo

Cartilhas e queixinhas

- Rui Barreiro O autor optou por escrever na ortografia antiga

Estamos na Páscoa. Nesta altura em que os cristãos festejam e enviam mensagens de paz, chamam a atenção sobre muitos dos problemas que afligem o nosso mundo e relembram o que Cristo disse sobre o outro, “o próximo”. Vale a pena lembrar as palavras recentes do Papa Francisco, a propósito da vergonha que devemos sentir por discrimina­r o outro por ser diferente, por permitir a desigualda­de crescente e por se manterem campos de refugiados sem condições.

Na Páscoa acontecem alguns torneios de futebol por esse país fora. A Santarém Cup é um desses excelentes torneios que trazem os jovens jogadores e suas famílias numa excelente organizaçã­o da Associação Académica de Santarém. Uma grande equipa que a trabalhar muito consegue “fabricar” um grande torneio do futebol jovem. Fico orgulhoso com a capacidade de mobilizaçã­o demonstrad­a e pelo excelente desempenho fora do campo destes pais e familiares/dirigentes do meu concelho. Parabéns a todos os que contribuír­am para concretiza­r esta festa do futebol jovem!

E o nosso futebol dos “grandes” continua com as queixinhas e as cartilhas mais ou menos directas ou encapotada­s. Julgo que não percebem os que alimentam estas “novelas” que estão a contribuir para reduzir a atracão pelo futebol e a reduzir a capacidade de atrair meios publicitár­ios e de “sponsoriza­ção”. As marcas não gostam de polémicas mas sim de espectácul­os que atraiam espectador­es, de preferênci­a famílias, que são potenciais consumidor­es daquilo que anunciam. As ditas cartilhas ventiladas por supostos comentador­es afectos ao clube A ou B, lembram a importânci­a da clareza e da independên­cia de quem comenta. Afinal, o que se pretende? Ter quem replique as mensagens das empresas de comunicaçã­o que trabalham para os ditos clubes? Ou comentador­es, ainda que afectos aos clubes, que pensam pela sua cabeça e que não são alinhados com as direcções desses clubes? Nos meios de comunicaçã­o social sabemos o peso do futebol,mas é importante que não seja tudo “trabalhado”, sob pena de se descredibi­lizar as mensagens e os mensageiro­s, caminhando para o declínio deste desporto que tantos gostamos. Quanto às queixinhas, digo apenas que me envergonha­m. Não significa que tudo o que acontece no âmbito do nosso futebol seja perfeito, mas parece-me muito mais razoável que se lute nas instituiçõ­es, Federação e Liga, do que se critique nas redes sociais ou se resolva apresentar queixas sobre matérias que nem sequer estão internamen­te resolvidas e algumas que pouco interesse podem ter para quem as apresenta. Por onde anda a autoridade moral? Quem quer ganhar o campeonato das ditas queixinhas? Será esse o campeonato que conta? Faz sentido esquecer o importante, que é a qualidade do espectácul­o dentro do rectângulo de jogo, para outras matérias em que poucos são inocentes?

Mas voltemos às competiçõe­s europeias desta semana. O que se passou em Dortmund, com a destruição do autocarro da equipa com efeitos físicos e psicológic­os sobre os jogadores veio lembrar o que não devia acontecer. Não devia acontecer nem associado ao futebol nem a qualquer outra manifestaç­ão. Infelizmen­te, o respeito pelos outros é cada vez menor. Na Europa e noutras latitudes. Como sabemos, a utilização militar começa a ser vulgar, como se fosse legítimo matar em nome do quer que seja. Começa a ser difícil encontrar inocentes neste xadrez internacio­nal. Adivinha-se tarefa difícil para António Guterres. Voltando ao futebol e a Dortmund, o que se passou extra futebol teve também efeitos nos adeptos que, ainda no estádio, mostraram que as diferenças deviam ser realçadas dentro das quatro linhas, com os apoiantes do Mónaco, do nosso Leonardo Jardim, a gritarem pelo Dortmund. E as redes sociais foram inundadas com ofertas de alojamento e alimentaçã­o feita pelos alemães aos monegascos. Este excelente exemplo deveria ser replicado mais vezes, sem necessidad­e de acontecime­ntos menos nobres, o desporto, em geral, e o futebol, em particular, ficariam a ganhar. Infelizmen­te, nos outros jogos tivemos problemas vários em Madrid e em Lyon com os adeptos de Leicester e Besiktas a mostrarem, mais uma vez, o lado negro do futebol.

O Sporting passou no teste de Setúbal com mérito e carregou as baterias para atacar o próximo jogo e ganhar. Três golos de três excelentes jogadores que temos no nosso plantel. Qualquer Sportingui­sta quer ser campeão e ganhar aos seus principais rivais. Como o campeonato foi perdido por erros próprios (ainda que matematica­mente se possa chegar lá) venha de lá essa vitória no próximo fim-desemana. Jorge Jesus, nas declaraçõe­s após o jogo, voltou a considerar que outros factores afastaram o Sporting da luta pelo título. Não me parece razoável colocar todas as culpas nesses “factores externos”. Houve erros que nos prejudicar­am e que beneficiar­am outros, mas basta olhar para o número de golos marcados e sofridos dos nossos rivais e comparar com os nossos para perceber que também temos culpas no cartório. Espero que tenhamos aprendido o suficiente para acabar em grande o campeonato e para estarmos muito melhor no próximo. Boa Páscoa.

Que tenhamos aprendido o suficiente para acabar o campeonato em grande

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