O ALQUIMISTA DO MÓ
Com recursos muito inferiores aos demais clubes semifinalistas, Jardim vê recompensado um trabalho de excecional qualidade
Nos últimos anos é difícil encontrar quem tenha valorizado jogadores mais e melhor que Leonardo Jardim. Mas se isso é motivo de satisfação, são os títulos que podem deixar o técnico na história
Praticamente tão antiga como a história da civilização humana, a alquimia tem como um dos seus principais objetivos a transmutação de outros metais em ouro. Numa analogia para o futebol, o objetivo de qualquer treinador passa por pegar em jogadores e fazer deles melhores do que eram, valorizando-os. Nas últimas três épocas dificilmente encontraremos um melhor alquimista que Leonardo Jardim – dando no Mónaco sequência a tudo o que de bom já havia feito em clubes como Chaves, BeiraMar, Braga, Olympiacos e Sporting.
Ao conquistar o acesso às meias-finais da Champions, anteontem, o treinador lusovenezuelano vai agora lutar por um lugar na final, tal como Real Madrid, Atlético de Madrid e Juventus, clubes que têm investido muito mais dinheiro para chegarem onde chegaram.
Comparando os saldos entre compras e vendas dos quatro semifinalistas nestas três temporadas que Jardim leva no principado, só o Mónaco apresenta resultados positivos. Por outro lado, só esta época, depois de duas de elevados lucros, investiu mais do que recebeu. No verão de 2015, nomeadamente, o Mónaco faturou 167 milhões de euros em vendas de jogadores como Martial, Kondogbia, Kurzawa, Abdennour e Carrasco, entre outros, que beneficiaram de um excelente desempenho na Champions, onde a equipa atingiu os quartos de final.
Agora, com o Mónaco a chegar ainda mais longe na Liga dos Campeões e com exibições impressionantes, o toque de Midas de Jardim voltará a ter consequências no final da época. E não custa prever um recorde astronómico de vendas, tantos, tão bons e tão jovens são os talentos que têm impressionado a Europa – Sidibé, Mendy, Bernardo Silva, Fabinho, Bakayoko, Lemar e Mbappé...
Mas um dia depois de o “L’Équipe” ter feito manchete do apuramento do Mónaco comotítulo“Valetudo”,émais do que óbvio que o técnico não está apenas interessado em valorizar jogadores. As suas ambições passam agora pelos títulos que o podem deixar na história do clube, bem como do futebol português e continental. O próprio não o esconde e embora também corra pela Taça, são o campeonato e, sobretudo, a Champions que fazem sonhar Leonardo Jardim.