NÃO É BRINCADEIRA Não o façam parecer uma brincadeira
or acaso, a única coisa que o caso dos emails do Benfica não é, e ao contrário do que diz a “fonte encarnada” citada pela Lusa, é irrelevante. Ou é relevante pelo que mostra da relação entre o tetracampeão nacional e os árbitros; ou é relevante como prova de facto da calúnia e/ou ofensa ao bom-nome eventualmente praticada(s) pelo FC Porto; e é sempre relevante por aquilo que espelha sobre as relações entre os dois maiores clubes portugueses e indicia sobre o próprio futebol nacional. Aliás, as reações têm sido paradigmáticas. Diz António Salvador, por exemplo: “Se há algo de errado, é preciso investigar rápido.” Diz mal. Não se investiga quando há algo de errado, investiga-se para saber se há algo de errado. E seria interessante se, nesta como nas restantes questões que o tema suscita, o futebol tivesse consciência do que está em causa e refletisse assertivamente sobre isso, em vez de se circunscrever aos velhos hábitos, práticas estabelecidas e tabus. Os hábitos, as práticas estabelecidas e os tabus do futebol português dizem que um clube pode ter dirigentes, consultores, funcionários e/ou colaboradores a ponderar, a trocar emails e – a hipótese impõe-se – a agir sobre os árbitros, a respetiva seleção, as suas atividades e as classificações que ocupam. É inadmissível. Não tem justificação. Só se pode conceber sem rebate de consciência num meio efetivamente sujo há demasiadas gerações. E o pior é que custa muito a acreditar que o que aqui está em jogo seja apenas o Benfica: também se impõe a hipótese de que sejam muitos clubes, se não todos os clubes. Investigue-se de imediato e em profundidade. Já há algo de errado: os emails (como, antes deles, os vouchers). E não é irrelevante: é gravíssimo.