Já não precisamos de heróis
Não é um Mundial, nem sequer tem o impacto de um Europeu. É (mais uma) invenção financeira da FIFA. A Taça das Confederações não tem peso histórico, acentua a carga física dos jogadores, mas procurando a relva no meio de toda esta máquina de fazer dinheiro, há jogadores de futebol de verdade. Não são máquinas, acreditem; são mesmo seres humanos, com uma bola à frente que jogam quase sem parar um ano inteiro. É neste contexto que surge esta competição. Questão de prestígio faraónico moderno onde passou a ter lugar a nossa seleção. São ainda os ecos do sonho francês que foi mesmo realidade, embora agora, na Rússia, o gelo se tenha quebrado e o patinho feio voltado ao princípio da história: Éder não foi convocado.
Eu sei que ele não fez uma grande época no Lille, mas na anterior também não, e que André Silva significa o futuro, mas sou dos que acreditam que, em certas circunstâncias (ou todas, afinal), tem de haver sempre lugar para os heróis. Eles têm uma força emocional invisível. Bastava olhar para ele, nem era preciso pensar que fosse jogar muito. Tem o aroma do impossível. E foi há apenas um ano.
Fernando Santos, porém, desceu à terra, atirou futebolisticamente o coração pela janela (como faz qualquer treinador que quer fazer tudo para ganhar) e remontou a sua Seleção a partir da base dos cisnes, os melhores e mais belos jogadores, sem esperar novas fábulas milagrosas com um remate de fora da área. Mesmo que tivesse sido o remate mais importante da nossa história.
OK, já chega de falar de Éder. Já perceberam o que sinto. Mas sinto também que podemos ganhar esta espremida Taça das Confederações. Não só porque temos Ronaldo e a sua fábrica de golos, mas também porque, apesar do esgar de desconfiança que a nossa defesa provoca cada vez mais, se tivermos a organização de jogo bem ritmada, Portugal será, acredito, a seleção mais motivada (junto com a organizadora Rússia) para disputar este torneio. A Alemanha parece ter metido o onze num laboratório de experiências de renovação. Atenção a Timo Werner. E depois dos alemães não existe mais nenhuma grande potência. Somo nós e o nosso destino.