O Jogo

A arrogância de quem se vê acima de qualquer suspeita

- Paulo Baldaia

Quem deu lugar a esta gente? Quantos mais destes andam por lá? Limpem lá a porcaria toda e vamos jogar futebol

V ai para duas semanas que o Benfica está debaixo de uma suspeita de ter utilizado o seu poder no futebol português para traficar influência­s e com isso beneficiar da “boa vontade” de alguns árbitros. Não vejo nos emails tornados públicos provas concludent­es de que houve aldrabice, mas os indícios são tão fortes que não permitem assobiar para o lado, como fizeram a maioria dos clubes na última reunião da Liga.

Com esta suspeita a pairar, o Benfica quis fazer a graçola de aprovar uma norma “ad hominem”, em que só o FC Porto e o Sporting votaram contra, visando Bruno de Carvalho. Numa oportunida­de para mostrar ao Benfica que não pode fazer o que quer, três clubes votaram ao lado dos encarnados e os restantes fizeram de conta que não era nada com eles. Não percebem que quando hoje se colocam ao lado de quem tem esta arrogância, amanhã serão eles as vítimas.

Os emails, que a cada semana se tornam mais graves, exigem o apuramento sério do que se passou. Ontem foi o “Expresso” a revelar mais uns pormenores. Filipe Vieira terá dito a Paulo Gonçalves: “Paulo, devíamos participar deste artista, pois brincou com o Benfica. Temos de lhe dar cabo da nota”. Meses depois, escreve o semanário, Pedro Guerra foi contactado por email por Nuno Cabral, que lhe disse que a avaliação de Rui Costa descera de 3,5 para 2. Nuno Cabral, delegado da Liga e que aparece nos emails revelados pelo Porto Canal, fala da “nossa reclamação”, mas ele não era tido nem achado nesse jogo que o FC Porto ganhou por 1-2, nem era suposto trabalhar para o Benfica.

A questão é mais simples do que parece. Só existem poderes ocultos quando os poderes de facto (órgãos da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga) não exercem os poderes que lhes estão conferidos por lei e pela vontade da maioria dos clubes. Não acredito em descidas de divisão e retiradas de títulos, mas espero bem que tudo o que está a ser revelado sirva, pelo menos, para ter um campeonato mais equilibrad­o ao nível das arbitragen­s. Ganhará quem tiver de ganhar, mas sem favores. O que não podemos de todo aceitar, como adeptos de futebol, é que um clube (seja o Benfica, seja o FC Porto) possa beneficiar de um sistema em que quem devia mandar não manda e quem manda só o pode fazer à margem da lei.

É o tempo de Fernando Gomes e Pedro Proença assumirem que lhes compete a eles voltar a colocar as competiçõe­s de futebol nos eixos. Transparên­cia, transparên­cia e transparên­cia, é disto em doses gigantesca­s que o futebol português está a precisar. Afinal quem são Nuno Cabral e Adão Mendes? Do que se sabe, são dois falhados que o Benfica parece ter aproveitad­o para trabalhos sujos, gente fraquinha do Norte ao serviço da corte de Lisboa, deslumbrad­os a querer ficar na fotografia para ganharem umas côdeas. Quem deu lugar a esta gente? Quantos mais destes ainda andam por lá? Limpem lá a porcaria toda e vamos jogar futebol.

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Religiosam­ente Portista

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