Engenheira de 27 anos dá táticas na Fórmula 1
Formou-se em Engenharia Aeroespacial e Aerotérmica em Cambridge, mas a vontade de ser princesa ou astronauta já tinha passado
Aos 18 anos, Ruth Buscombe, que viria a tornar-se uma menina-prodígio da engenharia, quase morreu num acidente de automóvel. Nove anos depois é responsável pela estratégia da Sauber
Ruth Buscombe, mulher a ocupar um cargo de destaque numa equipa de Fórmula 1, ainda um mundo de homens, esforça-se por ser conhecida pelo trabalho desenvolvido, não por ser mulher. Mulher e jovem a mandar em pilotos durante as corridas.
Ruth frequentava a Universidade de Cambridge quando, em 2010, com 20 anos, entrou para o grupo de engenheiros que criaram e aperfeiçoaram o sistema DRS, a asa móvel traseira destinada a facilitar ultrapassagens mediante regulamentação específica. A participação nessa equipa de técnicos especializados acabou por levá-la até à Formula 1 .
Entrou no Circo ao serviço da Ferrari, começando por trabalhar na simulação de estratégias, tendo chegado a ser responsável pelo carro de Kimi Raikkonen. Daí transferiu-se para a equipa Haas, que se estreava na disciplina e era também a menos capacitada das escuderias em prova. E surgiu o primeiro sinal de espanto logo na corrida inaugural: no Grande Prémio da Austrália de 2016,ajudouRomainGrosjean a ser sexto classificado. Por iniciativa da engenheira, o piloto suíço aproveitou a bandeira vermelha para reabastecer, poupando uma ida à boxe durante a corrida. Esses segundos foram precisos na classificação final.
Ruth Buscombe durou pouco tempo na Haas. Em setembro de 2016 foi recrutada pela Sauber, o que representava de novo um desafio extraordinário. Os carros da Sauber usam motores do ano passado e têm menos 60 cavalos de potência do que os concorrentes. Ainda assim, no Grande Prémio de Espanha deste ano a estratégia de Ruth levou Pascal Wehrlein a conseguir quatro pontos, colocando a Sauber à frente da historicamente poderosa McLaren, esta época a viver um processo desesperado em que nada corre bem.
Desafio é o rímel
Ruth Buscombe afirma que nunca teve problemas com qualquer piloto e nunca nenhum questionou a estratégia elaborada por ela pelo facto de ser mulher.
Para ela, tudo é um desafio. “Um grande treino é acertar o rímel nos dois olhos no menor tempopossível”,disseao“UOL Esporte”. “Os homens nunca vãosaberoníveldepressãoque isso causa.” A brincadeira acaba por ser reveladora de um modo de estar e sentir.
Ementrevistaao“Guardian”, em maio, contou que sempre quis estudar Engenharia para chegar à Fórmula 1, revelando que houve professores que tentaram dissuadi-la. “Não por não ser suficientemente boa naquiloquefazia,masporquerer fazê-lo na Fórmula 1.”
Sendo o pai um fã incondicional da McLaren, Ruth acompanhava-o nas corridas e jogava todos os videojogos que tivessem que ver com a disciplina. “Passei a sonhar ser uma princesa e uma astronauta para depois chegar à Fórmula 1.”
A vontade de usar uma tiara foi suplantada pela de estar ligadaàscorridas.Formou-seem Engenharia Aeroespacial e Aerotérmica na Universidade de Cambridge e concluiu os estudos com um mestrado sobre sistemasdereduçãodearnaF1. Daíintegrarajáreferidaequipa que criou e desenvolver o DRS.
Sobre a notoriedade crescente que a acompanha, afirmou: “Oxaláquesejamasestratégias que estejam a chamar a atenção! É claro que qualquer pessoa quer ser julgada por aquilo que faz no seu trabalho. Queria ser conhecida por isso: por ser uma boa estrategista, ao invés de chamar a atenção por ser mulher ou por ser jovem.”
Ruth Buscombe aproveita as oportunidades em que fala sobre o trabalho que desenvolve para alertar as mulheres para o facto de não haver profissões para homens e outras para mulheres. “As jovens precisam de saber que engenharia também é para elas.”
Confessando-se ingénua, afirmou que nunca antes lhe tinha passado pela cabeça que a atmosfera da F1 pudesse ser tão machista, mas salienta que depois de ter entrado naquele mundo, não teve problemas, elogiandoparticularmentePat Fry, que lhe abriu as portas da Ferrari.
“A Fórmula 1 vai mudando devagar...”, afirmou.