REVOLUÇÃO PERIGOSA
Leis do jogo a reboque das novidades nas cúpulas do desporto-rei
O International Board nasceu em 1886 e é tradicionalmente pouco aberto a grandes mudanças. Mas, agora, o IFAB mudou e há um diretor de desenvolvimento técnico da FIFA e todos precisam de mostrar trabalho
Em agosto de 2016, na sequência das mudanças e do vento novo que soprou na FIFA, Gianni Infantino, eleito pouco antes, designou Marco van Basten diretor de desenvolvimento técnico da FIFA, para encontrar novos caminhos para as leis do futebol, que vêm quase todas do mundo pré-televisão. O antigo ponta de lança holandês teve de mostrar trabalho rapidamente e logo em dezembro, numa entrevista ao diário alemão “Bild”, avançou com ideias várias, umas razoáveis (só o capitão poder falar com o árbitro), outras bastante menos, como acabar com a lei do fora de jogo ou ainda punir as jogadas deliberadas com a mão com expulsões de cinco ou dez minutos.
Entretanto, em 2014, o International Board foi transformado em International Football Association Board (IFAB), organismo independente, mas em que a FIFA tem metade dos votos e os países britânicos (Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte) os outros 50% e qualquer decisão tem de ter uma supermaioria de 75%. Também o IFAB mudou, tem um diretor que é o antigo árbitro David Elleray e, de um momento para o outro, começou a sentir-se um sopro de mudança maior do que tinha havido nos seus 130 anos anteriores. O videoárbitro é o caso mais célebre, embora esteja ainda em fase experimental e só em março esteja previsto que o IFAB tome decisão (apesar de vários países já terem anunciado que o vão aplicar nos seus campeonatos, como Portugal, Alemanha e outros).
Agora o IFAB apresentou um documento chamado “Play fair” e diz que tem três objetivos – melhorar o comportamento dos jogadores, nomeadamente a nível disciplinar; aumentar o tempo efetivo de jogo (como isso era importan- te em Portugal, por exemplo) e aumentar a justiça e a atratividade.
Algumas das ideias parecem positivas – uma delas é ter mais em conta o tempo real que se perde na marcação de livres, cantos e penáltis, nas substituições ou na assistência médica aos jogadores, ou obrigar os árbitros a serem mais estritos no cumprimento dos seis segundos que os guarda-redes podem ter a bola na mão. A ideia dos 30-30 minutos ao cronómetro já foi experimentada em várias ligas e a vantagem é saber-se que o jogo tem o tempo certo.
“Play fair” é o documento apresentado pelo IFAB que traça as linhas mestras daquilo que pretende para o futuro do futebol
Também não parece mal que o árbitro só apite para o intervalo ou para o fim com a bola fora do campo.
Outras mudam o jogo: poder marcar um canto ou um livre podendo o mesmo jogador dar o segundo toque (e o terceiro...) ou não poder haver recarga num penálti, são mudanças radicais que o futebol tem rejeitado ao longo dos tempos. A tradição tem sido de manter estabilidade de regras o mais possível, o que tem sido parte da universalidade do jogo e da fácil compreensão que os espectadores têm das regras. O que é fundamental.