Os ensinamentos de Fernando Santos
Portugal garantiu com todo o mérito a passagem às meias-finais da Taça das Confederações. Ontem, goleou naturalmente a Nova Zelândia, num jogo que até nem foi muito bem conseguido, mas não me apraz ir muito por aí, porque nesta altura da época é desumano estar a exigir mais dos jogadores. Há outras conclusões a tirar e uma delas tem a ver com o selecionador, Fernando Santos, que a mim, que também sou treinador de futebol, continua a dar ensinamentos sobre o que é dirigir uma equipa. Ele tem sido impecável na forma como vai gerindo o grupo de trabalho. Conhece-o bem, e as constantes mexidas, diria cirúrgicas, que faz em cada jogo, revelam esse conhecimento, essa compreensão que tem de cada um dos jogadores. Que estão desgastados e é preciso saber lidar com isso. Aliás, esse desgaste está na razão direta da qualidade dos espetáculos nesta Taça das Confederações. Tal como eu previra, não estamos a assistir a grandes jogos. Daí que tenha de se entender os primeiros 20 minutos que Portugal fez ontem. É fruto da época... Não consigo condenar um comporta- mento menos agradável da Seleção Nacional. Mesmo assim, Portugal está lançado para conquistar a prova, o que é também um bom sinal do trabalho que se está a fazer na Federação e que tem de ser louvado, porque há um projeto que é transversal a todas as seleções, desde a principal até às de formação. Veja-se os sub-21, que acabam de ser afastados das meias-finais do Europeu da Polónia. Injustamente, porque os jovens portugueses fizeram uma prova extraordinária e só foram traídos pela ansiedade (leia-se necessidade) de marcar golos. Num campeonato “sui generis” no que toca às condições de apuramento do melhor segundo dos três grupos, Portugal entrou para o último jogo com a necessidade de golear. Não o fez pela tal ansiedade, por- que são jogadores muito jovens. Se Portugal não tivesse essa obrigatoriedade de golear, tinha-o feito naturalmente, porque criou várias oportunidades para marcar. Isso e o facto de ter apanhado no seu grupo provavelmente a maior potência de equipas de formação, a Espanha. Duas circunstâncias que ditaram o futuro de Portugal na prova. Mas a uma equipa que teve uma derrota em cinco anos, pesada é verdade, pode-se pedir mais ou exigir o mundo? Creio que não. Rui Jorge só tem de estar orgulhoso do seu trabalho e do grupo que criou, liderou os representantes de uma geração que garante o futuro do futebol português. Foram extraordinários. Sei que parece um contrassenso dizer-se isto na hora da derrota, mas há razões de sobra e resultados apresentados para se poder falar assim. É com orgulho que temos de olhar para estes jovens valores. O bom trabalho da Federação vê-se também na coerência que existe em todas as seleções; há uma ideia, há um projeto, e há uma sintonia entre os selecionadores, e disso é um bom exemplo a cedência de Cancelo e Renato Sanches por Fernando Santos a Rui Jorge, numa demonstração de que o importante é ganhar. Ao fazer isso, o selecionador principal quis atribuir uma extrema importância ao Europeu de sub-21, sabendo que o sucesso da formação ajuda ao crescimento dos jogadores, porque é mais fácil crescer a ganhar.
O selecionador tem sido impecável na forma como vai gerindo o grupo de trabalho. As mexidas cirúrgicas que faz revelam conhecimento