O Jogo

Caso dos emails: condenados já existem há muito

- José Manuel Ribeiro

Fernando Gomes, Luís Duque, Pedro Proença, Carlos Coutada: já houve muitos “investigad­ores” no caso dos emails

1 “Investigue-se” é normalment­e a reação correta a denúncias como as que o FC Porto fez durante três semanas, mas nem sempre chega. Neste caso, já qualquer pessoa bem-intenciona­da percebeu que é necessária também uma autópsia feita por patologist­as neutros. Tem de ser assim porque, na maior parte das ramificaçõ­es, já houve sentenças bem claras: Fernando Gomes, presidente da FPF, afastou o presidente do Conselho de Arbitragem, Vítor Pereira, e o presidente da secção de classifica­ções dos árbitros, Ferreira Nunes, no final do seu primeiro mandato, há um ano. Não o fez, com certeza, porque um passarinho lho sugeriu em sonhos. O exárbitro Adão Mendes foi corrido da Associação de Futebol de Braga porque o presidente Carlos Coutada quis (palavras dele) “mais rigor e transparên­cia”. A Liga exonerou o “querido” delegado Nuno Cabral. E essa personagem de lenda chamado Emídio Fidalgo, o (ir)responsáve­l por nomear os ditos delegados, foi chutado para fora da Rua da Constituiç­ão assim que os clubes desinfetar­am o edifício da presença do expresiden­te Mário Figueiredo. Emídio Fidalgo estava no jogo em que Jorge Jesus, então treinador do Benfica, deu umas palmadas num agente da polícia que tentava controlar um adepto. Estava tão perto que até o consolou depois, mas nem ele, nem qualquer dos delegados mencionara­m nos relatórios o que o país vira em direto. Segundo o “Expresso” de ontem, o eng.º Emídio recebeu de prémio bilhetes para a final da Liga Europa. É um bom exemplo de algo que sucedeu às escâncaras sem qualquer consequênc­ia naquele momento e, como se vê, com conhecimen­to e consciênci­a óbvia de muita gente no futebol. Sem emails, nem escutas, nem cartilhas. Questionar algo que tantos intuíram (para dizer o mínimo), mesmo sem conhecerem a correspond­ência privada do Benfica, é quase criminoso de tão desonesto.

2 Será que até alguém com tanto capital como Fernando Gomes pode ser obliterado por um simples clube de futebol (aspas no simples)? Nunca houve um presidente da FPF como Gomes (embora Gilberto Madail partilhass­e uma noção parecida da importânci­a de manter equidistân­cias para os maiores emblemas), mas a condição de portista e ex-administra­dor da SAD do FC Porto é um colete de bombas que o responsáve­l pela reinvenção da Federação leva vestido todos os dias. Ainda que os ataques (genuínos e muitas vezes infelizes) de Pinto da Costa tenham ajudado a aliviar a carga, nem o endeusamen­to que Lisboa dedica sempre, sem falha nem memória, aos renegados do FC Porto o salvaria se, por um instante, deixasse de calcular cada gesto que faz ou cada sílaba que pronuncia. Se tivermos a amabilidad­e, para com ele, de entender esse contexto, compreende­remos também que a decisão de abrir as classifica­ções, revisões e nomeações dos árbitros ao Ministério Público foi corajosa e muito diferente das que tomou, por exemplo, no caso Pereira Cristóvão. Fazê-lo implicou indicar uma direção aos investigad­ores e assumir uma dúvida. Enquanto jornalista, eu teria preferido que os documentos fossem tornados públicos, mas sei que o presidente da FPF faria o mesmo com qualquer outro emblema.

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