A Seleção Nacional em três atos
A gora já podemos dizer, caros amigos. Com o México, jogámos sem cabeça. Nós, a seleção campeã da Europa, entrámos na Taça das Confederações cheios de nós próprios e com os parafusos desapertados. E, não, não digo isto no bom sentido.
É verdade que Quaresma fez uma obra de arte, toda malícia e sangue-frio, sentando o guardião mexicano antes de atirar a bola para as redes. Mas pouco depois, nos tais minutos psicológicos, deixámos que a equipa de Jiménez e companhia empatasse. Na segunda parte, a mesma história. Um passe-remate de Cédric acabou por dar golo, e o que é que fizemos? Recuámos a olhar para o relógio, a cantar vitória para dentro. Levámos com a água fria em cima, claro. Um golito mexicano nos descontos. Um erro, tudo bem, acontece, mas dois? Repetir o erro do excesso de confiança? Não, pois, o primeiro ato da equipa-detodos-nós nesta coisa das Confederações não foi nada brilhante.
Felizmente, a música no segundo ato foi diferente. Míster Santos teve a grandeza de dar a mão à palmatória e tomou a decisão que se impunha: Bernardo Silva a titular. Que diferença, amigos! Com o número dez em campo, a equipa joga logo com outra inteligência e outra alegria.
É verdade que só marcámos um golo, no habitual estilo luso de não fazer corresponder os números do placar à arte desembrulhada na relva. André Silva funcionou bem como copiloto de Cristiano, prendendo defesas e criando espaços, mas falhou no momento de voar sozinho. Temos de melhorar nessa hora agá do chuto. Talvez Quaresma possa oferecer ao plantel umas oficinas sobre como ser zen no momento definitivo. Mas, no geral, estamos no bom caminho. Com Bernardo a fazer de maestro-vagabundo, podemos tudo.
Terceiro ato: goleada à Nova Zelândia. Marcámos quatro, sim, mas foi outro caso de placar enganador. Só que em sentido contrário. Apenas durante a segunda metade da primeira parte – quando Bernardo decidiu pegar na batuta – e no finalzinho do jogo – quando os neozelandeses quebraram de corpo e alma – é que tivemos futebóis com princípio, meio e fim. De resto, houve uns solavancos e uns brilharetes individuais. A boa notícia é que André Silva quebrou o enguiço do golo falhado. A má notícia é que Bernardo saiu lesionado.
Aqui fica o pedido, míster Santos: na meia-final, podemos ganhar juntando a “eloquência” dos artistas à “economia real” do resultado?
Nós, a seleção campeã da Europa, entrámos na Taça das Confederações cheios de nós próprios e com os parafusos desapertados