O jogador e o(s) estilo(s)
Porque não há melhor forma de um jogador reclamar para si protagonismo, Vidal menorizou o estilo que tantos elogiam ao futebol chileno pós-Bielsa resumindo o jogo da sua seleção numa frase: “Qual estilo? Pressionamos o mais que pudermos e furamos até criar situações de golo. Foi sempre assim!” Os adeptos do esforço (a intensidade no vazio) terão gostado desta reflexão que, no fundo, espelha um estado de ânimo que nunca faltou às equipas chilenas ao longo da história, mas que nunca as fez perceber a diferença fundamental entre jogar para pressionar e pressionar para... jogar. Essa revolução estilística diz, em síntese, a forma como se olha para o jogo: se primeiro se olha para como ter a bola ou para como a roubar. É o que faz a diferença do Chile pós-Bielsa (que podia não ter Vidal no onze) e serviu de base inspiradora ao seguinte de Sampaoli. Pelo meio, Borghi não percebeu o conceito e Pizzi tenta o compromisso entre o sentimento e o jogo, mas com a astúcia de nunca colocar em causa o que foi feito antes. Uma coisa também é certa: Vidal está cada vez melhor jogador. Estranho? Não. Porque também passou a distinguir a pressão para não deixar jogar daquela que tem como pressuposto um local predefinido para recuperar a bola (em zonas altas) e depois jogar com respeito por ela. O “antigo Vidal” seria impossível de adaptar-se a um estilo de Guardiola. O “atual” adapta-se a esse como a outro qualquer. A sua forma de olhar/sentir o jogo pode ser a mesma. A sua forma de o jogar/ posicionar-se é muito diferente. E isso é estilo. Onde este Chile melhorou foi defensivamente, porque passou a perceber melhor a importância de saber... perder a bola. Antes, era empolgante quando a tinha. Era perturbante mal a perdia. Aquilo que o fazia ganhar era o mesmo que depois o fazia perder. Não é uma questão de mudança de sistema (passar do risco da defesa a “3” para a clássica a“4”) . É questão de entender como o meio-campo tem de ser um local de pressão para controlar a posse adversária e a posse da própria equipa( primeiro ,“posse consentida ”, depois ,“posseÉ contra este onze de Vidal (“pressionar até furar”) que Portugal vai jogar.