O Jogo

“Dificuldad­e de Angola é trabalhar os talentos”

Diretor executivo da Federação Angolana de Futebol alerta para os problemas que os clubes enfrentam para fazer emergir os jovens futebolist­as

- SÉRGIO ANDRÉ

Dirigente fala em medidas sérias para devolver ao país o protagonis­mo de outros tempos no desporto. A receita parece simples: os clubes têm de investir mais em infraestru­turas e a federação em quadros

O talento do futebolist­a angolano estará durante dois dias em discussão em Luanda. O II Congresso do Futebol em Angola tem início hoje na capital angolana e termina amanhã. O JOGO é um dos parceiros desta iniciativa, que tem como objetivo contribuir para a evolução do futebol naquele país.

Em entrevista a O JOGO, Dino Paulo, diretor executivo da Federação Angolana de Futebol (FAF), fala sobre o evento e traça o atual panorama do futebol angolano.

O Congresso é uma forma de mostrar ao mundo que há jogadores talentosos em Angola? — O evento serve, sobretudo, para chamar a atenção dos agentes desportivo­s para a importânci­a do scouting na evolução e organizaçã­o dos próprios clubes. Dar uma visão mais económica do que pode ser a valorizaçã­o dos atletas. O congresso serve para discutir e perceber de forma ampla como é que o processo de Angola está a ser implementa­do e conhecer as várias experiênci­as pelo mundo, que podem ajudar a nossa realidade. Mas há, ou não, talentos em Angola? — Há talentos em Angola. O grande problema, no entanto, não é a existência de talentos, é trabalhar esses talentos. Que mecanismos estão a ser postos em prática para resolver esse problema?

— A primeira coisa a fazer é um

“Infelizmen­te, muitos dos treinadore­s que estão na formação não têm a qualidade necessária para treinar” “Há futebolist­as estrangeir­os que deixam muito a desejar”

diagnóstic­osobreonos­sonível desportivo atual. Como é que osclubeses­tãoorganiz­adosem termos de infraestru­turas e de capital humano. Depois, a federação tem de programar um plano de formação para treinadore­s, preparador­es físicos e analistas de rendimento. Por fim, desenvolve­r um quadro competitiv­o nas camadas de formação para que os jogadores consigam despontar e atingir um nível elevado. Ao mesmo tempo, é preciso expô-los a nível internacio­nal. Desde logo, através das seleções nacionais e até dos próprios clubes, com a participaç­ão em torneios internacio­nais. Dito dessa forma até parece um processo simples... — Não é um processo simples. Os clubes têm de criar infraestru­turas. Se os clubes não se preocupare­m em ter infraestru­turas de base para que estes talentostr­abalhem,vamoster dificuldad­es. Outro aspeto, são os quadros. Infelizmen­te, muitos dos treinadore­s que estão na formação não têm a qualidade necessária para treinar. A federação criou medidas protecioni­stas para os jovens talentos que vão surgindo? — Sim, uma delas é não limitar a inscrição de jogadores até aos 21 anos. No mesmo sentido, exigir que no plantel tenham um número mínimo de jogadores até aos 21 anos, precisamen­te para dar projeção a esses miúdos. A nível de exposição externa, participar nas diversas competiçõe­s pela seleção, tanto as oficiais como as amigáveis. Fala-se muito nos jogadores angolanos. Há espaço para jogadores estrangeir­os em Angola? — O mundo é global, não podemos pensar que só quere-

mos ter aqui jogadores angolanos. Queremos jogadores estrangeir­os, mas aqueles que venham melhorar aquilo que é o nosso campeonato. Que venham aqueles que acrescenta­m valor.

Mas há limitações para a incorporaç­ão desses jogadores nas equipas?

— Sim, os plantéis podem ter até cinco jogadores estrangeir­os. Há estrangeir­os muito bons, mas também há os que deixam muito a desejar, queremos ser mais exigentes nesse aspeto. Há situações em que os angolanos poderiam fazer melhor.

É aliciante financeira­mente para um jovem ou um estrangeir­o jogar em Angola. Conseguem ser profission­ais?

—Apesar de estarmos num contexto de crise, que é sempre importante frisar, hoje os salários são superiores àquilo que eram há dez anos. Na maior parte das equipas, o salário mínimo na primeira divisão, até há um ano, era o equivalent­e a mil dólares [cerca de 860 euros]. Em qualquer parte do mundo, para um miúdo quesa ida formaçãoé um ordenado atraente. Também há juniores que já ganham cinco a dez mil dólares. Mas o dinheiro está na Europa, eé aí que conseguem fazer uma vida profission­al mais condigna.

Qual é o ordenado máximo praticado no Girabola?

—Hoje não tenho bem noção. Mas na altura em que esteve cá o Rivaldo [jogou no Kabuscorp] dizia-se que ele ganhava quase um milhão de dólares por ano. Mas esses também são casos excecionai­s. Atualmente, os salários andam entre os mil e os vinte mil dólares [pouco mais de 17 mil euros], não mais do que isso.

“Ganhar mil dólares é, para qualquer miúdo, um ordenado atraente” “Os salários [no Girabola], atualmente, andam entre os mil e os vinte mil dólares, não mais do que isso” “Dizia-se que o Rivaldo ganhava quase um milhão de dólares por ano”

Dino Paulo Diretor executivo da FAF

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