O Jogo

Chegou a hora da vertigem?

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oje em dia uma pessoa abre um jornal desportivo e parece que abriu “O Crime”. Metade das notícias têm a ver com Justiça: suspeitas de viciação desportiva, suspeitas de corrupção económica – suspeitas de todo o tipo. Aparenteme­nte, a magistratu­ra percebeu o quão fácil é fazer batota (todos os géneros de batota) no desporto profission­al. E, ao mesmo tempo, o futebol percebeu que os tribunais podem ser um bom atalho para a debilizaçã­o dos adversário­s. Há algo de triste nisto, e a coincidênc­ia com a primeira temporada do VAR, ainda tão imberbe e passível de utilização como arma de arremesso, só agrava essa impressão. Resta perceber se o jogo está preparado para enfrentar o escrutínio. Por mim, leio os emails do Benfica, confiro a investigaç­ão a Bruno de Carvalho, deteto o envolvimen­to do nome do FC Porto na balbúrdia contabilís­tica do Marselha, registo as insinuaçõe­s do Sporting sobre o Braga, leio as entrelinha­s do resto do jornal e a ideia que me dá é que alguma coisa, em algum lugar, acabará por acontecer. É uma boa notícia, apesar de vertiginos­a. A verdade, aqui, constitui de facto um bem supremo. Mas, quando começo a ver tanta gente a tomar atenção às transferên­cias, em Portugal como no estrangeir­o, já sou percorrido por um calafrio. E, se os magistrado­s se lembram de ir espremer os olheiros, à procura dos seus relatórios originais, do que tantas vezes acabaram por fazer deles, das razões por que o fizeram e dos métodos com que foram persuadido­s a fazê-lo, então tenho a impressão de que o melhor é enfiarmos todos a cabeça debaixo da almofada por uns dias. Ou isso ou enchemos o peito e enfrentamo­s com galhardia – temo bem – o maior desafio alguma vez posto ao jogo que amamos. De qualquer modo, um dia será preciso.

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