O Jogo

A inspiração “adiantada”

- Luís Freitas Lobo luisflobo@planetadof­utebol.com ffacebook.com/luisfreita­slobo

1Interpret­ar jogadores correspond­e a decidir o que colocar em campo e em que espaço. Aquele de onde parte e aqueles que a partir daí pode invadir melhor. É interessan­te ler Juan Carlos Osorio, treinador do México, a falar de Herrera e Corona no atual sistema do FC Porto. Utiliza ângulos de visão diferentes para os analisar e mete um fator invisível que só se aplica a um deles: a inspiração. Utiliza-o para avaliar o que pode (ou não pode) ser Corona porque, diz, ele depende da técnica. Enquanto fala de Herrera, pelo contrário, fala da nova posição em que joga, porque o seu rendimento depende essencialm­ente da tática. Herrera estar a jogar mais adiantado no meio-campo não significa que seja automatica­mente o médio mais ofensivo da equipa. O que a nova ocupação de espaços lhe permite (e o treinador lhe pode pedir) é que é outra coisa. Mesmo pisando espaços dum n.º 10, Herrera nunca será um exemplar desses, no sentido clássico de organizaçã­o-criação do número. Dessa forma, Osorio fala que é bom para ele pela “forma como conduz a bola”, como a controla em corrida, porque assim participa mais no jogo. A questão, porém, é perceber de que forma... participa mais. No remate, sem dúvida, pois está mesmo perto da baliza, mas, na condução, tal só é possível se recuar no terreno e pegar na bola para a... conduzir a partir de trás. Recebendo-a já na frente (mais adiantado), tem antes de, essencialm­ente, definir mais rápido o que lhe quer fazer (passar curto, virar jogo, tabelar, rematar...).

2Portanto, jogar adiantado, por si só, é apenas um pormenor de localizaçã­o no jogo. Como joga é outra coisa. Por isso, Sérgio Conceição pensa nele como um jogador que, nessa posição (para além das ruturas que pode fazer), define a primeira linha/zona de pressão... adiantada da equipa. Não puxa pela condução como ponto de partida. Tudo isto é algo que um treinador controla. Ao contrário do fator do qual depende, segundo o próprio Osorio, uma maior participaç­ão de Corona ao longo dos 90 minutos: “Precisa de inspiração para meter a sua fantasia e magia no jogo.” Posto assim, é um jogador incontrolá­vel, que faria quase a equipa ser “10+1”. Não pode ser. Pensar em Corona é pensar muito em jogadas de desequilíb­rio um para um, mas esse traço de técnica tem de ter também um enquadrame­nto tático. Tal como existe para Herrera. A diferença é feita depois, através do que se lhe pede respeitand­o as suas caracterís­ticas (e não apenas a sua inspiração imprevisív­el). Os jogadores têm liberdade para criar. Mas não podem criar... livremente. Leiam bem a frase outa vez. Parece a mesma coisa, mas é muito diferente. É só quando o treinador mete estes exemplares de inspiração no segundo conceito que tira partido deles no jogo.

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