O Jogo

As bancadas são futebol?

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ausência da seleção italiana é uma perda para o Mundial’18. A Espanha já não é o que era, a Argentina só joga às vezes, a França vai na enésima reconstruç­ão e de Inglaterra nunca se sabe o que se pode esperar. O pior que pode acontecer a um Mundial é ser disputado entre dois favoritos (a Alemanha e o Brasil, neste caso) e dois ou três candidatos (Portugal incluído, diz Fernando Santos). Mas é esse o espectro que o torneio russo enfrenta. Tenho pena por ele e tenho pena pelos jogadores italianos. Pelos adeptos – ou pela maior parte dos adeptos – que ontem estiveram em San Siro, não tenho pena nenhuma. Assobiar o hino nacional adversário é de uma descortesi­a e de uma boçalidade que não pode passar em claro, ainda por cima no momento inflamado que o futebol vive (no mundo como em Portugal). A minha esperança é que, algures num cantinho da consciênci­a dos milhares de iletrados que assobiaram, alguma coisa lhes sugira que foi em resultado dos seus assobios que os jogadores suecos reuniram às forças que tinham e aquelas que não tinham. De resto, já chamaram “gesto de fair play” à tomada de posição de Buffon. É como elogiar um homem por não roubar um banco, para usar a expressão de Bobby Jones. O que Buffon fez foi apenas expressar o constrangi­mento de um homem educado. O que, mesmo assim, contrasta com a atitude dos companheir­os de equipa, e por isso tenho ainda mais pena por ele do que pelos outros. Sempre gostei de um futebol rude. A vida é rude, e o futebol permanece metáfora e metonímia para ela. Mas o que acontece nas bancadas nunca é futebol: é sociedade. Estes jogos em que se assobia o hino adversário são reflexo de uma sociedade que deixou de saber distinguir a mão esquerda da direita.

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