Pensemos na aritmética
hora a que escrevo, a iniciativa Jogos Solidários rendeu 500 mil euros a Pedrógão Grande. E eu sei que o que vou dizer agora parece cinismo. Gostava que não fosse entendido como cinismo, mas como aritmética: devia ter rendido mais. Devia ter rendido mais e, bem feitas as contas, Pedrógão foi quem menos ganhou. É verdade que o tanto o Advertising Equivalent Value (AEV) como os restantes índices usados em publicidade e em RP para medir o valor acrescentado pelas referências jornalísticas às marcas e às instituições tem mudado ao longo das décadas. Hoje, e por via tanto da fragmentação do sector como da popularização do jornalismo “mainstream”, a chancela jornalística vale menos. Mas uma referência ainda é calculada como valendo cinco vezes o seu espaço em publicidade. Ou seja: se um anúncio de um minuto (ou uma página) custa mil euros à marca que anuncia, um minuto (ou uma página) de jornalismo em torno dessa marca vale cinco mil euros. Nos EUA, dez mil euros. E é difícil conceber que as milhares de referências, as centenas de páginas e as dezenas de horas de emissão em torno destes Jogos não tenham valido às marcas e instituições envolvidas – as três federações, as seleções, as televisões todas, os patrocinadores –, no seu conjunto, mais de meio milhão de euros de publicidade. A intenção foi boa, 500 mil euros é melhor do que nada e, aliás, a Parábola da Viúva Pobre permanece soberana. O futebol não é pobre, note-se: é uma indústria de milhões. Todo este alarde por meio mês de ordenado de um jogador não me parece especialmente generoso. Mas essa é só uma opinião pessoal. O que importa é a aritmética: os Jogos Solidários deram lucro, e o de Pedrógão Grande não foi o maior. Um dia vamos ter de começar a pensar nestas coisas.