“Espião” de Pedro Guerra na FPF alvo de queixa-crime
Horácio Piriquito enviava informação confidencial ao ex-diretor de conteúdos da Benfica TV
Vogal do Conselho Fiscal da FPF apresentou a demissão do cargo
Vogal do Conselho Fiscal da FPF, acusado de enviar emails com informação confidencial para Pedro Guerra, pediu a demissão e alega não ter feito nada de ilícito. O JOGO mostra os documentos da polémica
Mais uma bomba a rebentar com estrondo no caso dos emails, desta vez envolvendo Horácio Piriquito. O vogal do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) foi apanhado numa troca de correspondência eletrónica com Pedro Guerra, comentador do Benfica, envolvendo documentos confidenciais da estrutura que gere o futebol nacional. A notícia, avançada pela revista “Sábado”, foi acompanhada por ex tratos dos emails em causa, aos quais O JOGO teve acesso e onde se constata que Horácio Piriquito remeteu para o antigo diretor da BTV auditorias trimestrais da FPF. Na sequência do caso, Piriquito demitiu-se, evitando a promessa do órgão federativo em marcar uma assembleia geral extraordinária para o destituir “por violação grave de deveres estatutários”. Piriquito escapa assim a um julgamento cara a cara pelos seus pares em sede da FPF.
A “bomba” de ontem forçou Horácio Piriquito a emitir um comunicado na sua página do Facebook, explicando que se demite “não por ter praticado algum ilícito”, mas sim para “melhor defender o prestígio e bom nome” da FPF. “Pedro Guerra sempre me pediu ajuda sobre informação financeira numa troca normal de informações ou esclarecimentos, verbalmente ou por email, o que fiz sempre com todo o gosto […]. Foram utilizados factos e dados disponíveis em qualquer documento público da FPF. Nenhuma informação confidencial foi passada para a opinião pública”, escreveu Piriquito pouco antes de a sua página naquela rede social deixar de estar aberta. Os emails a que O JOGO teve acesso mostram outra realidade, como o pró- prio envolvido não escondeu no contacto com Pedro Guerra. Por exemplo, numa mensagem datada de 23 de setembro de 2015, para a caixa postal eletrónica encarnada do então responsável pela BTV, lê-se: “Envio-te um documento confidencial da FPF só para teu conhecimento e que ainda nem foi aprovado. Vamos debatê-lo agora numa reunião às 11h00.” Em resposta, Pedro Guerra agradece o envio prometendo guardá-lo “religiosamente e de forma confidencial”, questionando ainda sobre o teor de uma reunião da FPF.Piriquitoresponde:“Nada de especial na reunião. Há ali muitas dívidas que são incobráveis [...]. E quando a FPF tenta cobrar ou pagar aos clubes é sempre através das Associações que muitas vezes levam tempo a fazer chegar o dinheiro aos clubes ou atrasamnos quando é para pagar à FPF [...]. Muitas vezes são as associações que estrangulam ou beneficiam os clubes conforme os alinhamentos clubísticos. Por isso as corridas do SLB e do FCP ao domínio das associações. Se uma associação é portista pode atrasar os paga-
Horácio Piriquito assumiu que “Pedro Guerra sempre pediu ajuda sobre informação financeira” e que as prestou “sempre com todo o gosto”
mentos a um clube alinhado com o Benfica e vice-versa. Agora estas coisas nunca se podem escrever, só dizer e com pouca gente a ouvir. E os desmentidos serão imediatos. É óbvio!!”
Noutro email, com data de 7 de julho de 2016, Piriquito remete em anexo “a versão final do orçamento” da FPF a qual, pelo histórico da mensagem, se percebe ter sido pedida ao presidente do Conselho Fiscal, Ernesto Ferreira da Silva, uma semana antes.
Auditoria “superconfidencial”
Num outro email de Horácio Piriquito, de 30 de setembro de 2016, é o vogal demissionário quem usa em título a palavra “confidencial”. “Segue superconfidencial. Nem sequer foi ainda aprovado. Aprovaremos hoje à tarde”, é o conteúdo que acompanha o resumo
de uma auditoria. A 15 de março do mesmo ano, e com igual título, já Pedro Guerra recebera em anexo e também o assunto “confidencial” uma cópia da auditoria da Crowe Horvath à FPF relativa ao segundo trimestre de 2015/16. Um documento onde constam, por exemplo, salários dos membros dos Órgãos Sociais federativos, incluindo o do presidente Fernando Gomes e, até, alguns detalhes financeiros da relação entre clubes e a FPF.
FPF com queixas na justiça
O comunicado da FPF sobre o teor dos emails foi claro quanto ao entendimento de poder ter havido neste caso “violação de segredo”, razão pela qual a instituição colocará as autoridades em campo. “A FPF denunciou o referido facto à Polícia Judiciária, disponibilizando-se para os procedimentosentendidosporconvenientes […]. A Direção da FPF decidiu remeter nesta data o conteúdo do artigo publicado para o Conselho de Justiça da FPF e apresentar queixa à Procuradoria Geral da República”, é assumido em comunicado.