TIAGO MOUTINHO “Temos uma relação de amor”
É português e tem tido resultados surpreendentes na China, o que explica com uma abordagem inovadora ao fenómeno futebolístico, em parte baseada numa relação positiva com os atletas
Em duas épocas, Tiago Moutinho venceu três títulos com a formação do Shandong Luneng, dois deles de campeão nacional chinês. Tem uma percentagem de sucesso elevadíssima e O JOGO tentou perceber porquê. Quais os segredos de tantos títulos? —Em primeiro lugar, a relação e a comunicação com os jogadores.O nosso grupo tinha fal- ta de confiança e não era feliz e eu, em primeiro lugar, procurei transmitir-lhes confiança. Recuperar o prazer de jogar futebol e também procurar que sorrissem, porque a cultura chinesa é um pouco rígida. Como assim? —Recorrem muito à punição do erro. E eu procurei que eles se soltassem. Procurei dar mais liberdade ao erro, porque um jogador em aprendizagem tem de errar. E tem de perceber por que errou. E em termos estratégicos? —Através da análise e da observação dos adversários, tento perceber os seus pontos fracos. Nunca digo aos meus jogadores que o adversário é forte, nada disso. Procuro sempre é explicar-lhes os pontos fra- cos do adversário, até para os motivar e para eles irem para dentro de campo sabendo que podem fazer mossa e tirar partido desses pontos fracos. O trabalho psicológico é o seu ponto mais forte? —As equipas alegres e felizes zes são mais fortes. O lado psicoicológico e social, o lado motivavacional, o criar objetivos cururtos, o irmos ao encontro do o jogador. Eles são seres humaa- nos, também têm paixões, , também têm emoções e nós temos de ir ao encontro dessas paixões e emooções. A sua primeira preocupaa- ção é ter um grupo psicologicamente saudá- vel? —Um treinador tem de ser
honesto e tem de saber comunicar com os jogadores de forma a criar uma empatia. Isso é fundamental. A partir daqui, sim, podem depois criar-se aspetos técnicos, estratégicos, táticos, de ordem organizacional, dos diversos momentos de jogo.Masdou muita importância à forma de comunicar com os jogadores.De certa forma, identifico-me com uma frase de Julian Nagelsmann, treinador do Hoffenheim, quando ele diz que o futebol é 30 por cento de tática e 70 por cento de competência social. Alguns colegas até me dizem que sou o Nagelsmann português, por brincadeira. De que consta essa competência social? —Algunstreina dorespensam
“Identificome com ideias do treinador do Hoffe
nheim. Há quem diga que sou o Julian Nagelsmann português” “Tentei fazer com que os meus jogadores sorrissem, porque a cultura chinesa é um pouco fechada nesse aspeto” “Procurei dar-lhes liberdade ao erro, porque um jogador em aprendizagem tem de errar. E tem de perceber por que errou” “Eu estou apaixonado pelos jogadores e sei que eles também estão apaixonados por mim. E isso foi construído...”
que é fácil trabalhar isso. Que é com palmadinhas nas costas ou simples jantares, mas não. Parte muito da identificação do grupo que temos, de perceber que é preciso uma empatia entre todos. Isso é que pode resultar. Mas também conta muito o instinto do treinador. Os treinadores têm de decidir muito rápido e às vezes esse instinto, essa genuinidade, conta para os jogadores. E ajuda. E depois há também a parte da admiração. Eu costumo dizer que eu e a minha equipa vivemosuma relação de amor, como se fôssemos um casal. Eu estou apaixonado e sei que eles também estão apaixonados por mim. E isso foi construído com trabalho, empatia e comunicação.