A “legalidade constitucional” do nosso futebol
“Vão ter que contar connosco”. Esta tem sido a frase do momento, em Braga e, apesar do limitado acesso do Braga aos média, nos jornais desportivos. Uma simples busca com a frase no motor de busca Google identifica uma série de links de jornais, televisões, blogues, aplicações, etc. A frase tem adquirido a vitalidade de um slogan revolucionário. Nele parece estar contida a ideia de cisão, de quebra com a “legalidade constitucional do futebol português”, na qual só aos três tradicionais ditadores é permitido o domínio e o acesso aos lugares cimeiros do nosso futebol (a exceção recente do Boavista tem também contornos muitos especiais de “domínio”, que não cabe aqui analisar). Este “status quo constitucional” do nosso futebol tem causas variadas. Desde logo, uma causa histórica: durante a prolongada ditadura pré-25 de Abril, e face à proibição da liberdade de associação, os órgãos federativos e associativos eram sempre homologados pelo ministro da tutela respetiva (geralmente ministro do Desporto). Com é bom de ver, os órgãos federativos eram dominados por Benfica, Sporting e (em menor grau) pelo Porto, dependendo da preferência clubística do respetivo ministro e da sua equipa. Ora, ao longo dos anos, este domínio dos três grandes era quase “institucionalizado”, pois tinha uma base legal. E como estes clubes ganhavam títulos, iam formando a sua base adepta. Além disso, o excessivo centralismo da sociedade portuguesa pré-25 de Abril fazia com que as pessoas de Braga, de Coimbra, de Guimarães ou de Viseu tivessem sempre uma preferência clubística para além do clube da terra. Isto explica por que é que, ainda hoje, grande parte dos estádios portugueses nas jornadas da I Liga estão “às moscas”. Além desta causa histórica, e dela decorrente, temos também o total domínio dos meios de comunicação social desportivos por parte dos três grandes. Vivemos um tempo em que a televisão é quase um critério ontológico: algo só existe se passa na televisão. Ora, como só existem, nas diversas televisões, programas com a presença de“comentadores adeptos” dos três do costume, só estes clubes é que, verdadeiramente, existem. O resto é acessório. Querem prova maior desta “nãoexistência” do que o cancelamento da conferência de Imprensa de antevisão do jogo D. Aves-V. Setúbal, na 11.ª jornada, por falta de… jornalistas? Por último, esta “legalidade constitucional” de domínio dos três grandes
Este domínio dos três grandes passa, também, pelo controlo das estruturas de poder
passa, também, pelo controlo das estruturas de poder. Os poderes (Federação, Conselho de Arbitragem, Liga, etc…) que deveriam atuar como garantes do equilíbrio (ou mesmo reequilíbrio) são, afinal, fatores de…maior desequilíbrio. E é neste contexto que a frase “vão ter que contar connosco” ganha maior vitalidade. O SC Braga quer romper a ordem estabelecida, dizer “presente” na luta contra o panclubismo dos três grandes. Nesta frase encontramos a constatação de uma realidade (domínio sistémico dos três grandes) que queremos alterar, impondo a nossa presença. É como disse Rosa Luxemburgo : “Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem”.