Eucaliptal a três e uma semente no G15
P ercebemos claramente que algo vai mal no futebol português quando, para encontrarmos declarações sensatas e responsáveis, temos de nos limitar a ouvir aqueles cuja função é jogar e não propriamente perorar sobre o jogo. Há uns dias, questionado Felipe (central do FC Porto) sobre as críticas que responsáveis dos outros candidatos ao título fizeram ao seu estilo de jogo (que estaria a passar à margem de punição), disse ele que, em Portugal, são todos rápidos a julgar os outros, mas que já são todos cegos e mudos a falar de si próprios. Li também as declarações de Alex Telles, que referiu, com toda a naturalidade, que, no ano passado, não tinham sido (FC Porto) campeões por erros próprios.
Declarações como estas são uma lufada de ar fresco que cortam com o ambiente fétido e irrespirável que os três eucaliptos do futebol português se têm encarregado de disseminar ao longo dos últimos tempos. Como escrevia neste mesmo jornal o João Ricardo Pateiro, o mal deste clima em que vivemos é que nenhum dos ditos três quer verdadeiramente regenerar o futebol português (regeneração essa necessária, mas que nunca seria o que eles quereriam que fosse, já agora), mas simplesmente aumentar o seu poder de influência e controlo em detrimento dos outros dois. Bom exemplo disso é o que se tem passado com o VAR esta época. Em vez de acarinhar um novo sistema que está a dar os primeiros passos, os ditos três preocupam-se mais em usar as suas falhas para atingir os outros, estando-se nas tintas para o facto de isso contribuir para arrumar de vez o dito sistema.
O que fazer então? Bem podem o presidente da Federação e o secretário de Estado lamentar-se com este estado de coisas, que, já percebemos, esses apelos cairão em saco roto. Continuaremos a ter de aturar essa recente subespécie do fenómeno futebolístico luso, esses caceteiros sob contrato que são os diretores de comunicação e as suas inanidades, insultos, insinuações torpes e cegueira clubística. Pior. Continuaremos a aturar os Senhores Presidentes do Eucaliptal, suas entrevistas encenadas e comícios itinerantes em guerras e guerrinhas ridículas. Perante este cenário, sentido faz a pergunta que lançava por estes dias Carlos Tê: “Porque perdemos tanto tempo com o futebol? Que avancem os psicólogos”, acrescentava.
Dito isto, acredito que a pior forma de tentar combater este fenómeno é imitá-lo. Exemplo disso é o dos responsáveis do Braga que se têm enredado em troca de galhardetes com os do Sporting, não fazendo mais do que contribuir para animar as suas hostes, mas não acrescentando nada de essencial ao problema.
Pelo contrário, a notícia da anunciada primeira reunião do chamado G15 constitui um indício de que todos os outros terão finalmente compreendido que andar cada um a falar para seu lado só tem um beneficiário. Um não, três. Cantemos, pois, aleluias e hossanas, pois mais vale tarde do que nunca. Muita coisa poderia já ter sido feita, mas nunca é tarde para endireitar o que anda torto há décadas e décadas. Acima de tudo: que isto não passe de uma mera encenação. Isso sim, seria trágico.
A pior forma de tentar combater este fenómeno é imitá-lo. Exemplo disso é o dos responsáveis do Braga que se têm enredado (...) com os do Sporting