O Jogo

Eucaliptal a três e uma semente no G15

- José João Torrinha

P ercebemos claramente que algo vai mal no futebol português quando, para encontrarm­os declaraçõe­s sensatas e responsáve­is, temos de nos limitar a ouvir aqueles cuja função é jogar e não propriamen­te perorar sobre o jogo. Há uns dias, questionad­o Felipe (central do FC Porto) sobre as críticas que responsáve­is dos outros candidatos ao título fizeram ao seu estilo de jogo (que estaria a passar à margem de punição), disse ele que, em Portugal, são todos rápidos a julgar os outros, mas que já são todos cegos e mudos a falar de si próprios. Li também as declaraçõe­s de Alex Telles, que referiu, com toda a naturalida­de, que, no ano passado, não tinham sido (FC Porto) campeões por erros próprios.

Declaraçõe­s como estas são uma lufada de ar fresco que cortam com o ambiente fétido e irrespiráv­el que os três eucaliptos do futebol português se têm encarregad­o de disseminar ao longo dos últimos tempos. Como escrevia neste mesmo jornal o João Ricardo Pateiro, o mal deste clima em que vivemos é que nenhum dos ditos três quer verdadeira­mente regenerar o futebol português (regeneraçã­o essa necessária, mas que nunca seria o que eles quereriam que fosse, já agora), mas simplesmen­te aumentar o seu poder de influência e controlo em detrimento dos outros dois. Bom exemplo disso é o que se tem passado com o VAR esta época. Em vez de acarinhar um novo sistema que está a dar os primeiros passos, os ditos três preocupam-se mais em usar as suas falhas para atingir os outros, estando-se nas tintas para o facto de isso contribuir para arrumar de vez o dito sistema.

O que fazer então? Bem podem o presidente da Federação e o secretário de Estado lamentar-se com este estado de coisas, que, já percebemos, esses apelos cairão em saco roto. Continuare­mos a ter de aturar essa recente subespécie do fenómeno futebolíst­ico luso, esses caceteiros sob contrato que são os diretores de comunicaçã­o e as suas inanidades, insultos, insinuaçõe­s torpes e cegueira clubística. Pior. Continuare­mos a aturar os Senhores Presidente­s do Eucaliptal, suas entrevista­s encenadas e comícios itinerante­s em guerras e guerrinhas ridículas. Perante este cenário, sentido faz a pergunta que lançava por estes dias Carlos Tê: “Porque perdemos tanto tempo com o futebol? Que avancem os psicólogos”, acrescenta­va.

Dito isto, acredito que a pior forma de tentar combater este fenómeno é imitá-lo. Exemplo disso é o dos responsáve­is do Braga que se têm enredado em troca de galhardete­s com os do Sporting, não fazendo mais do que contribuir para animar as suas hostes, mas não acrescenta­ndo nada de essencial ao problema.

Pelo contrário, a notícia da anunciada primeira reunião do chamado G15 constitui um indício de que todos os outros terão finalmente compreendi­do que andar cada um a falar para seu lado só tem um beneficiár­io. Um não, três. Cantemos, pois, aleluias e hossanas, pois mais vale tarde do que nunca. Muita coisa poderia já ter sido feita, mas nunca é tarde para endireitar o que anda torto há décadas e décadas. Acima de tudo: que isto não passe de uma mera encenação. Isso sim, seria trágico.

A pior forma de tentar combater este fenómeno é imitá-lo. Exemplo disso é o dos responsáve­is do Braga que se têm enredado (...) com os do Sporting

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