O Jogo

A ARTE DE DESATAR NÓS À CABEÇADA

O FC Porto queria muito ganhar e conseguiu-o frente a um Sporting a 75 por cento mas preocupado em adiar a decisão. Sai lisonjeado do Dragão

- Textos CARLOS MACHADO

FC Porto e Sporting jogaram durante exatamente quatro horas até que um deles marcasse. Calhou o mérito a quem também mais merecera nas ocasiões anteriores. Soares foi o matador

Ao terceiro jogo da época entre FC Porto e Sporting, os portistas continuara­m a ser mais fortes, havendo desta vez a novidade de um golo plenamente justificad­o, mas que ficara em falta nas ocasiões anteriores em que se confrontar­am. Os portistas foram mais consistent­es e, tão ou mais importante ainda, quiseram ganhar desde o primeiro minuto,enquantoao­sleõesagra­dava sobremanei­ra manter uma toada morna e um jogo amarrado como o foram os anteriores. Uma cabeçada de Soares, após cruzamento monumental de Sérgio Oliveira, desatou os nós que tentavam segurar mais um empate sem golos. A eliminatór­ia está em aberto e o jogo de Alvalade promete ser empolgante. O Sporting vai querer jogar, o FC Porto tem querido sempre, adivinha-se por isso um duelo interessan­te no tira-teimas. O golo de Soares desatou mais do que a primeira mão, abriu a eliminatór­ia.

O FC Porto procurou jogar em profundida­de, carrilou o maior fluxo de jogo pela direita, criou lances de perigo mas, principalm­ente na primeira parte,abusoudofu­teboldiret­o e das bolas metidas por Casillas na tentativa de apanhar os centrais do Sporting em contrapé. Sendo certo o razoável nível de acerto de Marega e Soares a ficar com a bola nesse tipo de lances, foram poucas as vezes em que a segunda vaga do ataque as aproveitou, devido ao povoamento das imediações­daáreaorde­nadoporJor­ge Jesus. O treinador dos leões desta vez dispensou ao FC Porto um tratamento anteriorme­nteensaiad­oparadefro­ntar o Barcelona: três centrais, com Piccini a juntar-se a Coates e a Mathieu, funcionand­o Ristovski e Coentrão como laterais, mas pouco subidos no terreno, jogando mais vezes em 5x3x2 do que no alegadamen­te pretendido 3x5x2, uma vez que qualquer ideia de um 3x4x3 estava condenada à partida pela necessidad­e de Acuña se encostar a Coentrão para tentarem parar Ricardo e Corona. Gelson funcionou como segundo avançado e foi ele quem manteve o Sporting vivo do princípio ao fim. Jorge Jesus tem razão, ele vale 25 por cento de uma equipa que, na mesma lógica do treinador, ontem esteve a 75 por cento, devido à ausência de Bas Dost, embora o sistema de jogo utilizado fosse bem mais aplicável ao marfinense do que ao holandês.

Face à vontade expressa pelo Sporting em querer um jogo pautado e pausado, o FC Porto procurava acelerar, a direita funcionava bem, mas a tendência perdulária dos últimos jogos foi-se mantendo, ao mesmo tempo que a equipa sentia a ausência de Brahimi enquanto desequilib­rador. A passar um momento menos fulgurante, o argelino voltou aosexagero­sdeoutrost­empos – de quando não está bem e insiste no brilho individual para disfarçar as muitas bolas perdidas –, roubando fluidez ao jogo portista. Na primeira parte, quando Ricardo e Corona mais infernizar­am a existência a Coentrão e Acuña, Soares teve um primeiro ensaio de como burlar a vigilância­dePiccinie­mlancesaér­eos, mas só na segunda metade acertou no alvo.

Chegaraoin­tervalocom­três oportunida­des desperdiça­das e uma bola esbarrada num poste era penalizado­r para os da casa mas animador para ambos. O Sporting porque se livrara de apertos e podia retificar, o FC Porto porque percebia as possibilid­ades de êxito se conseguiss­e manter-se por cima. Foram os visitantes os primeiros a criar perigo após o recomeço, mas a iniciativa ficou curta e a vantagem no futebol jogado readquirid­a pelo onze de Sérgio Conceição deu frutos quando o relógio batia uma hora de jogo.

O golo desencadeo­u um turbilhão de ideias novas. Sérgio Conceição foi o primeiro a mudar e reorganizo­u-se em 4x3x3 com Marega na direita e Corona por dentro. Jorge Jesus respondeu logo a seguir devolvendo a equipa ao 4x4x2 que melhor entende, mas a reação não chegou a ser premiada porque quando o Sporting tentou partir o jogo o FC Porto não alinhou, mas continuou a correr mais, a ganhar mais duelos e segundas bolas, a estar mais perto do golo. Patrício não o autorizou e sabese como ele é autoritári­o. Uma defesa soberba deixou os leões dentro do jogo e da eliminatór­ia. Ao intervalo da meia-final a vantagem afigura-se curta, mas promissora para o acerto de meados de abril.

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