A ARTE DE DESATAR NÓS À CABEÇADA
O FC Porto queria muito ganhar e conseguiu-o frente a um Sporting a 75 por cento mas preocupado em adiar a decisão. Sai lisonjeado do Dragão
FC Porto e Sporting jogaram durante exatamente quatro horas até que um deles marcasse. Calhou o mérito a quem também mais merecera nas ocasiões anteriores. Soares foi o matador
Ao terceiro jogo da época entre FC Porto e Sporting, os portistas continuaram a ser mais fortes, havendo desta vez a novidade de um golo plenamente justificado, mas que ficara em falta nas ocasiões anteriores em que se confrontaram. Os portistas foram mais consistentes e, tão ou mais importante ainda, quiseram ganhar desde o primeiro minuto,enquantoaosleõesagradava sobremaneira manter uma toada morna e um jogo amarrado como o foram os anteriores. Uma cabeçada de Soares, após cruzamento monumental de Sérgio Oliveira, desatou os nós que tentavam segurar mais um empate sem golos. A eliminatória está em aberto e o jogo de Alvalade promete ser empolgante. O Sporting vai querer jogar, o FC Porto tem querido sempre, adivinha-se por isso um duelo interessante no tira-teimas. O golo de Soares desatou mais do que a primeira mão, abriu a eliminatória.
O FC Porto procurou jogar em profundidade, carrilou o maior fluxo de jogo pela direita, criou lances de perigo mas, principalmente na primeira parte,abusoudofuteboldireto e das bolas metidas por Casillas na tentativa de apanhar os centrais do Sporting em contrapé. Sendo certo o razoável nível de acerto de Marega e Soares a ficar com a bola nesse tipo de lances, foram poucas as vezes em que a segunda vaga do ataque as aproveitou, devido ao povoamento das imediaçõesdaáreaordenadoporJorge Jesus. O treinador dos leões desta vez dispensou ao FC Porto um tratamento anteriormenteensaiadoparadefrontar o Barcelona: três centrais, com Piccini a juntar-se a Coates e a Mathieu, funcionando Ristovski e Coentrão como laterais, mas pouco subidos no terreno, jogando mais vezes em 5x3x2 do que no alegadamente pretendido 3x5x2, uma vez que qualquer ideia de um 3x4x3 estava condenada à partida pela necessidade de Acuña se encostar a Coentrão para tentarem parar Ricardo e Corona. Gelson funcionou como segundo avançado e foi ele quem manteve o Sporting vivo do princípio ao fim. Jorge Jesus tem razão, ele vale 25 por cento de uma equipa que, na mesma lógica do treinador, ontem esteve a 75 por cento, devido à ausência de Bas Dost, embora o sistema de jogo utilizado fosse bem mais aplicável ao marfinense do que ao holandês.
Face à vontade expressa pelo Sporting em querer um jogo pautado e pausado, o FC Porto procurava acelerar, a direita funcionava bem, mas a tendência perdulária dos últimos jogos foi-se mantendo, ao mesmo tempo que a equipa sentia a ausência de Brahimi enquanto desequilibrador. A passar um momento menos fulgurante, o argelino voltou aosexagerosdeoutrostempos – de quando não está bem e insiste no brilho individual para disfarçar as muitas bolas perdidas –, roubando fluidez ao jogo portista. Na primeira parte, quando Ricardo e Corona mais infernizaram a existência a Coentrão e Acuña, Soares teve um primeiro ensaio de como burlar a vigilânciadePicciniemlancesaéreos, mas só na segunda metade acertou no alvo.
Chegaraointervalocomtrês oportunidades desperdiçadas e uma bola esbarrada num poste era penalizador para os da casa mas animador para ambos. O Sporting porque se livrara de apertos e podia retificar, o FC Porto porque percebia as possibilidades de êxito se conseguisse manter-se por cima. Foram os visitantes os primeiros a criar perigo após o recomeço, mas a iniciativa ficou curta e a vantagem no futebol jogado readquirida pelo onze de Sérgio Conceição deu frutos quando o relógio batia uma hora de jogo.
O golo desencadeou um turbilhão de ideias novas. Sérgio Conceição foi o primeiro a mudar e reorganizou-se em 4x3x3 com Marega na direita e Corona por dentro. Jorge Jesus respondeu logo a seguir devolvendo a equipa ao 4x4x2 que melhor entende, mas a reação não chegou a ser premiada porque quando o Sporting tentou partir o jogo o FC Porto não alinhou, mas continuou a correr mais, a ganhar mais duelos e segundas bolas, a estar mais perto do golo. Patrício não o autorizou e sabese como ele é autoritário. Uma defesa soberba deixou os leões dentro do jogo e da eliminatória. Ao intervalo da meia-final a vantagem afigura-se curta, mas promissora para o acerto de meados de abril.