A CARTILHA DE RAP ... é outra, e não é melhor
Eu não sei se Ricardo Araújo Pereira é cartilheiro. Não sei se há cartilha sequer. Mas quem o ouviu, ainda no último “Governo Sombra”, mitigar uma suspeita sobre Luís Filipe Vieira com uma informação que lhe haviam prestado “duas fontes distintas” – já não me lembro qual era a suspeita nem qual era a informação, duas coisas que aliás abundam – sabe que, às vezes, ele se assemelha àqueles em que inspira as suas personagens, e a que costuma chamar “palermas”. RAP já não está no pico da forma, porque a sua profissão proporciona fraca longevidade, mas é talvez o nosso melhor humorista de sempre. E é, em todo o caso, um dos portugueses públicos mais brilhantes da minha geração. Por isso custa tanto vê-lo fazer tais figuras. Porque confirmam uma tendência. Gerou-se em Portugal a ideia de que até o mais inteligente dos cidadãos tem o direito a ser imbecil quando se trata de futebol. E se calhar deve compreender-se que assim seja, mesmo nesta atmosfera de crispação tão talhada para a violência. É por isso que o próprio RAP, na sua permanente construção, se antecipa sempre: “Quando se trata do Benfica, sou um imbecil.” O problema é que chega a parecê-lo. Comporta-se imbecilmente, pelo menos. E isso, mesmo que não seja um insulto à sua inteligência, é pelo menos pena. Até porque favorece a imbecilidade daqueles que, desprovidos da sua autocrítica, mais facilmente detonarão o barril de pólvora.