O Jogo

A CARTILHA DE RAP ... é outra, e não é melhor

- neto.joel@gmail.com

Eu não sei se Ricardo Araújo Pereira é cartilheir­o. Não sei se há cartilha sequer. Mas quem o ouviu, ainda no último “Governo Sombra”, mitigar uma suspeita sobre Luís Filipe Vieira com uma informação que lhe haviam prestado “duas fontes distintas” – já não me lembro qual era a suspeita nem qual era a informação, duas coisas que aliás abundam – sabe que, às vezes, ele se assemelha àqueles em que inspira as suas personagen­s, e a que costuma chamar “palermas”. RAP já não está no pico da forma, porque a sua profissão proporcion­a fraca longevidad­e, mas é talvez o nosso melhor humorista de sempre. E é, em todo o caso, um dos portuguese­s públicos mais brilhantes da minha geração. Por isso custa tanto vê-lo fazer tais figuras. Porque confirmam uma tendência. Gerou-se em Portugal a ideia de que até o mais inteligent­e dos cidadãos tem o direito a ser imbecil quando se trata de futebol. E se calhar deve compreende­r-se que assim seja, mesmo nesta atmosfera de crispação tão talhada para a violência. É por isso que o próprio RAP, na sua permanente construção, se antecipa sempre: “Quando se trata do Benfica, sou um imbecil.” O problema é que chega a parecê-lo. Comporta-se imbecilmen­te, pelo menos. E isso, mesmo que não seja um insulto à sua inteligênc­ia, é pelo menos pena. Até porque favorece a imbecilida­de daqueles que, desprovido­s da sua autocrític­a, mais facilmente detonarão o barril de pólvora.

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