O Jogo

Eis que chegaram as zemanas Z

- Descalço na Catedral Jacinto Lucas Pires

Zivkovic é, permitam-me o cliché, um segredo guardado à vista de todos. É essa a sua maior arma contra a pressão

E, de repente, está tudo sobre os ombros de um miúdo. Há o dia D, não é verdade?, e a hora H, não é assim? Pois então. Permitam-me, caros amigos, esticar só um nadinha a língua portuguesa e afirmar solenement­e: eis que chegaram as zemanas Z. As zemanas Z do Benfica, exato. O minuto M do miúdo, o zegundo Z de Zivkovic. O aqui e agora de Andrija, o instante irrepetíve­l do maestro-estagiário. Não quero dramatizar, mas não dá para fugir. A realidade como que pinga emoção, o próprio ar escorre drama. Lembra um daqueles contos antigos em que, graças a uma série de acontecime­ntos mais ou menos improvávei­s, mais ou menos possíveis, todo um reino acaba por depender da escolha de um rapazito. É como estamos por estes dias: suspensos por cada gesto do miúdo que veio do Partizan para o Glorioso.

Com a lesão de Krovinovic, abriu-se uma pergunta no meio-campo da maior equipa do mundo. O míster, que parecia desconfiad­o em relação à forma do extremo sérvio, ainda tentou adaptar João Carvalho ao miolo, mas rapidament­e se apercebeu do erro. Há quem confunda casmurrice com “ideias claras” ou “autoridade”. Nada mais errado: inteligênc­ia não tem a ver com infalibili­dade. Tem, sim, a ver com emendar a mão quando é preciso. Aqui fica o meu aplauso. Com Zivkovic, a equipa joga diferente, pois – mais desequilib­rada para a frente, talvez, mas isso não é necessaria­mente mau. Se soubermos ter bola e marcarmos cinco batatas por cada erro defensivo…

Zivkovic é, permitam-me o clichê, um segredo guardado à vista de todos. É essa a sua maior arma contra a pressão. Ninguém sabe ao certo como é que o craque jogará no meiinho. Para já, julgo perceber uma primeira diferença em relação ao estilo Krovinovic. Se o croata reinventav­a a posição 8, o sérvio propõe-se ressuscita­r a posição 10. (Aliás, permitam-me o parêntesis: talvez valesse a pena levar Valdo, Rui Costa e Aimar para uns treinos desta semana – um ciclo de conferênci­as, em plena relva, sobre a figura do maestro para inspirar o jovem craque, não?)

Nesta versão, Pizzi terá de se sacrificar a defender, claro, e toda a orquestra terá de se adaptar à nova batuta, mas acredito que é por aqui. Escrevo antes ainda do embate com o Portimonen­se (que tal, jogámos bonito?), mas acredito, acredito que é por aqui. Saiba o miúdo, qual herói numa velha lenda, estar à altura do seu destino.

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