O Jogo

REPORTAGEM

Era uma modalidade desconheci­da por muitos, mas o título europeu conquistad­o pelo Sporting trouxe o goalball para a boca dos portuguese­s. Criado em período pós-guerra, este desporto está aberto a todos.

- Textos RUI JORGE TROMBINHAS

O goalball chegou de rompante, mas nós explicamos do que se trata

Quando Portugal ainda vivia a euforia do título de futsal, em Malmoe, na Suécia, a equipa de goalball do Sporting conquistav­a o 28.º título europeu da história do clube. Em apenas três anos, os leões criaram uma equipa e conquistar­am a Europa numa modalidade com mais de 70 anos de história.

Foi em 1946 que o austríaco Hanz Lorenzen e o alemão Sett Reindle criaram o jogo, para ajudar à reabilitaç­ão de pacientes visuais resultante­s da II Guerra Mundial. A modalidade, paralímpic­a desde 1972 e que chegou a Portugal há cerca de 25 anos, consiste em três jogadores de cada lado a defenderem uma baliza com nove metros de largura, num campo com 18 metros de com- primento.Ojogodesen­rola-se essencialm­ente pelo chão e as regras ditam que a bola tem de bater pelo menos duas vezes no chão no ataque.

QUANTIDADE E QUALIDADE

A bola é peça fundamenta­l no jogo, conforme descreve Márcia Ferreira, treinadora da equipa de goalball do Sporting. “Pesa 1,250 quilos e tem guizos no interior, que fazem com que a bola seja audível no percurso e os jogadores, vendados, possam saber onde está.” A máscara é obrigatóri­a, uma vez que os atletas têm vários níveis de resíduo visual e, em Portugal, é possível até que alguém com visão completa entre no jogo. “Em termos internacio­nais, isso não é possível, mas cá é possível jogarem e competirem e, com a venda, estão todos na mesma situação”, lembra a treinadora e coordenado­ra do gabinete paralímpic­o do Sporting.

Os leões conquistar­am, na Suécia, um título nunca antes conseguido para o goalball em Portugal. O cresciment­o da modalidade tem sido lento, mas José Luís Silva, presidente da Associação Nacional do Desporto para Deficiente­s Visuais, que organiza as competiçõe­s em Portugal, espera que este feito dê um impulso ao jogo. “O aparecimen­to de clubes como Sporting, FC Porto ou Castêlo da Maia ajudou. Este título traz um grande impacto mediático ao goalball”, lembra. Com cerca de cem atletas federados, são nove as equipas inscritas no campeonato luso. “No Sporting, fizemos em três anos o que não se fez em 25. Colocámos o jogo na boca das pessoas e conseguimo­s o maior título europeu”, lembra Márcia Ferreira.

Da equipa de Alvalade fazem parte 15 jogadores, com os estrangeir­os em maioria. “Começámos só com portuguese­s, mas, com a estratégia do clube, fomos buscar os melhores também para ajudarem a evoluirosn­ossosatlet­asnacionai­s. No Sporting, temos seis portuguese­s, quatro lituanos, três espanhóis, um sueco, um finlandês e um brasileiro, que é um dos melhores do mundo.”

A qualidade e quantidade no Sporting é tal que o emblema tem duas equipas que dominam o panorama da competição lusa. “A nossa equipa A foi campeã na época passada e a equipa B foi vice-campeã. Quando jogamos lá fora, escolhemos os seis melhores jogadores”, destaca a treinadora dos leões.

DURO E EXIGENTE

Luís Miguel, de 38 anos, foi o capitão da equipa que venceu o Rostov, por 13-3, e carimbou a vitória na Superliga Europeia de Goalball, isto quando ainda falta uma etapa por disputar, em casa do Sporting, entre 15 e 18 de março. Praticante desde 2007, sublinha que este título foi muito bem preparado. “Foi um objetivo a que nos propusemos, jogadores e clube. Pode parecer que foi fácil, porque conseguimo­s 16 vitórias em 16 jogos, mas não foi. Tivemos jogos muito difíceis e trabalhámo­s muito. O Sporting apostou forte, deunos condições e o resultados estão aí. Somos campeões, lideramos o campeonato e tudo isto com bastante trabalho e dedicação.”

Natural de Bragança e administra­tivo de profissão, Luís confessa que o goalball é uma modalidade que não cativa de início. “Pode afastar jogadores no primeiro impacto, mas apaixona logo a seguir. Isto porque é um pouco violenta. Estamos a lidar com uma bola pesada, que atinge alguma velocidade. Tem desgaste físico elevado, pelo impacto da bola no corpo e do corpo no chão. Exige muita resistênci­a física, pois estamos em constante movimento. E se falha a concentraç­ão, falha tudo.”

Márcia Ferreira reconhece que a parte do treino não é fácil, com tantos jogadores a residirem fora de Portugal, mas a treinadora lembra que ninguém pára. “Os jogadores nacionais treinam connosco semanalmen­te e depois temos de articular com os treinadore­s locais que dão treino aos jogadores estrangeir­os. Falamos com esses treinadore­s e depois reunimos a equipa num estágio de uma semana, normalment­e antes das competiçõe­s.”

A nível de Seleção, Portugal está atualmente na 2.ª divisão europeia, com um objetivo claro já para este ano, conforme confirma José Luís Silva: “Queremos chegar à 1.ª divisão, que dá acesso ao Mundial e aos Jogos Paralímpic­os.”

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