De Infantino a Cajuda
O futebol português pode ter a ganhar com as medidas propostas pelo presidente da FIFA, entretanto vive nas suas particularidades
O presidente da FIFA assumiu esta semana uma cruzada contra o crescente desnivelamento entre ricos e pobres no universo do futebol europeu e quer resolver o assunto rapidamente (até final deste ano). Fim do mercado de transferências de inverno, fecho do de verão antes de as competições abrirem e retorno dos milhões que circulam no futebol à formação, numa tentativa de recompensar quem produz pela periódica rapina de quem se dedica (porque pode) a comprar. Coincidentemente (e como todos sabemos, as coincidência não são para aqui chamadas!), foi divulgado um relatório da mesma FIFA que ilustra como as ligas de Inglaterra e Espanha multiplicaram exponencialmente os gastos na contratação de jogadores no passado mês de janeiro. Sozinhos, estes dois países – e apesar do “lastro” que foi a redução do investimento de alemães, franceses e italianos – levaram os montantes investidos nesta janela intermédia de transferências a números nunca vistos. Daí a preocupação de Infantino (como Poiares Maduro confirmaria...) ser menos com as questões da transparência ou opacidade do dinheiro que circula entre clubes e agentes de jogadores mas sobretudo com a saúde da galinha dos ovos de ouro: como tendencialmente os mais ricos ganham mais vezes, não convém que sejam só espanhóis e ingleses a ganhar sob pena de se perder o interesse competitivo. Exatamente, o negócio! Ao mesmo tempo que na FIFA se discutem as grandes linhas do futuro, por cá assistimos a regressos, aquelas particularidades em que o nosso futebol é fértil. A luta pelo pontinho não perdoa e faz vítimas semanalmente, tendo como outra face da moeda a devolução ao palco de personagens eternas – José Mota tenta salvar o Aves, Petit de novo o Moreirense e até Manuel Cajuda voltou ao ativo, no Académico de Viseu, da II Liga. Têm, naturalmente, direito a mostrar as competências para as quais foram contratados, até por garantirem um colchão de conforto na hora da aflição. E, em certos casos, como Cajuda, doses de bom humor que o próprio garante estar a faltar ao futebol nacional. Impõe-se perguntar se é mesmo humor ou juízo que faz falta.
O risco de se cair em falsos moralismos é quase tão grande como o dos populismos, mas apesar de tudo menos ameaçador para quem está na oposição...