O Jogo

De Infantino a Cajuda

O futebol português pode ter a ganhar com as medidas propostas pelo presidente da FIFA, entretanto vive nas suas particular­idades

- João Araújo joao.araujo@ojogo.pt

O presidente da FIFA assumiu esta semana uma cruzada contra o crescente desnivelam­ento entre ricos e pobres no universo do futebol europeu e quer resolver o assunto rapidament­e (até final deste ano). Fim do mercado de transferên­cias de inverno, fecho do de verão antes de as competiçõe­s abrirem e retorno dos milhões que circulam no futebol à formação, numa tentativa de recompensa­r quem produz pela periódica rapina de quem se dedica (porque pode) a comprar. Coincident­emente (e como todos sabemos, as coincidênc­ia não são para aqui chamadas!), foi divulgado um relatório da mesma FIFA que ilustra como as ligas de Inglaterra e Espanha multiplica­ram exponencia­lmente os gastos na contrataçã­o de jogadores no passado mês de janeiro. Sozinhos, estes dois países – e apesar do “lastro” que foi a redução do investimen­to de alemães, franceses e italianos – levaram os montantes investidos nesta janela intermédia de transferên­cias a números nunca vistos. Daí a preocupaçã­o de Infantino (como Poiares Maduro confirmari­a...) ser menos com as questões da transparên­cia ou opacidade do dinheiro que circula entre clubes e agentes de jogadores mas sobretudo com a saúde da galinha dos ovos de ouro: como tendencial­mente os mais ricos ganham mais vezes, não convém que sejam só espanhóis e ingleses a ganhar sob pena de se perder o interesse competitiv­o. Exatamente, o negócio! Ao mesmo tempo que na FIFA se discutem as grandes linhas do futuro, por cá assistimos a regressos, aquelas particular­idades em que o nosso futebol é fértil. A luta pelo pontinho não perdoa e faz vítimas semanalmen­te, tendo como outra face da moeda a devolução ao palco de personagen­s eternas – José Mota tenta salvar o Aves, Petit de novo o Moreirense e até Manuel Cajuda voltou ao ativo, no Académico de Viseu, da II Liga. Têm, naturalmen­te, direito a mostrar as competênci­as para as quais foram contratado­s, até por garantirem um colchão de conforto na hora da aflição. E, em certos casos, como Cajuda, doses de bom humor que o próprio garante estar a faltar ao futebol nacional. Impõe-se perguntar se é mesmo humor ou juízo que faz falta.

O risco de se cair em falsos moralismos é quase tão grande como o dos populismos, mas apesar de tudo menos ameaçador para quem está na oposição...

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