O Jogo

Para perder a vergonha é preciso demonstrar a razão

- Paulo Baldaia

Como dizia Jorge Jesus, se falta alguém “joga o Manel”

H á derrotas que deixam marcas nos adeptos para muitos anos. Enterrar a cabeça na areia nunca é solução e só há uma maneira de uma equipa de futebol corrigir uma derrota por cinco golos, mesmo que na Liga dos Campeões, mesmo que contra o Liverpool. A vitória de hoje, no Dragão, contra o Rio Ave, é o único resultado positivo mas não chega ganhar. É preciso que ela seja esclareced­ora, que seja feita de futebol bem jogado em todas as zonas do campo. É preciso que a melhor defesa do campeonato português mostre que o jogo de quarta-feira foi um acidente de percurso, um manteiguei­ro que não voltará a acontecer. É preciso que o meio-campo controle o andamento do jogo, quando tem a bola e quando não tem, pressionan­do alto, não deixando o adversário jogar como entender. E é preciso que os nossos avançados tenham um melhor aproveitam­ento das oportunida­des que a equipa produz. A massa associativ­a e os adeptos, que ficaram a aplaudir a equipa, mesmo depois da maior derrota de sempre em jogos oficiais em casa, não aplaudiram pela qualidade do jogo que viram, mas porque quiseram manifestar a sua confiança para as competiçõe­s nacionais. Essa confiança tem de ser retribuída. Somos a melhor equipa portuguesa, estamos na frente, com o segundo melhor ataque e a melhor defesa, e temos de mostrar que não é por acaso. O que espero é que não tenha havido paninhos quentes no balneário, nem desculpas. O que aconteceu contra o Liverpool envergonha os adeptos e deve envergonha­r os jogadores e a equipa técnica. Assumir essa vergonha não significa, no entanto, ter de viver com ela. E ela só desaparece com um percurso exemplar para o que falta do campeonato. Em pouco tempo, menos de duas semanas, o FC Porto terá uma grande oportunida­de de mostrar que é o principal candidato ao título. Entre o jogo de hoje em casa com o Rio Ave, a meia parte que falta jogar contra o Estoril, a ida a Portimão e a receção ao Sporting, é preciso ter a ambição de conquistar doze pontos. Se isso acontecer, não há Liverpool que nos atormente os sonhos, nem haverá ninguém que nos impeça de conquistar o título de campeão nacional. A verdade é que no campeonato nacional a equipa que todos apontavam como curta revelou não ser tão curta assim. Como dizia Jorge Jesus, se falta alguém “joga o Manel”. E isso foi o que vimos no jogo que fomos fazer a Chaves e que vencemos com autoridade, mesmo jogando sem cinco dos jogadores ditos titulares. Para consumo interno, o plantel chegou, pelo menos até ao momento, mas o que é preciso é garantir que o “Manel” tem ambição para contribuir com autoridade para a afirmação de um clube que é exemplo a nível mundial. Ganhar importa mas não é o mais importante, a forma como se ganha é, muitas vezes, determinan­te para definir o que um clube é, enquanto instituiçã­o que junta à sua volta um indetermin­ado número de associados. O FCP é uma instituiçã­o que vai muito além da competição desportiva. Em muitos momentos, este foi um clube que fez a defesa das populações nortenhas, quando os políticos que as representa­vam falharam. Ser portista não é apenas defender um emblema, é uma forma de estar na vida, um destino que é preciso agarrar com as duas mãos para que ele faça sentido. Isto tem de ser explicado a todos os que são pagos para jogar de azul e branco. Não se trata apenas de ganhar, mas de ganhar com razão, com mérito, com justiça. O FC Porto não é, nunca foi, um clube do regime. A norte de Portugal começam sempre as lutas contra as arbitrarie­dades do centralism­o de Lisboa e, no futebol, elas são tão antigas como a prática deste desporto. Vestir de azul e branco é vestir uma farda de combate pela verdade, pela equidade, pela justiça. É isto que se espera dos jogadores do FCP para os combates que se avizinham. Se querem perder a vergonha, demonstrem a vossa razão. Eu sei que os melhores jogadores estão neste clube, mas compete-lhes a eles demonstrar que eu tenho razão.

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Religiosam­ente Portista

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