Critérios esquisitos do CA com o VAR
O início desta época trouxe uma grande novidade. Depois de anos de imobilismo no que respeita às regras do jogo, em que quase parecia que o futebol estaria para sempre refém das opiniões serôdias de um conjunto de senhores de idade avançada das ilhas inglesas, tudo mudou. E como tantas vezes acontece, foi tipo garrafa de ketchup: passamos de faladas pequenas mudanças para uma verdadeira revolução. O VAR aí estava e não ia só ter voto na matéria no que toca às questões da linha de golo, mas em muitas outras. Desde há muito que defendo que as novas tecnologias deveriam fazer a sua entrada no retângulo de jogo. O desafio desta época era, porém, muito ambicioso. Essa ambição iria exigir de todos que deixássemos o sistema respirar. Que não puséssemos tudo em causa ao primeiro problema. E que as regras de funcionamento do VAR fossem pedagogicamente explicadas e escrupulosamente cumpridas. Quando digo todos, falo mesmo de todos. Do Conselho de Arbitragem, de quem se exige que tudo clarifique, explique e implemente; dos árbitros, de quem se pede que saibam interpretar corretamente o novo mecanismo, e não boicotá-lo (no relvado ou na cidade do desporto); dos dirigentes, que não se devem atirar ao VAR ao primeiro desaire e, finalmente, de nós, adeptos, que não podemos também pôr em causa esta nova ferramenta porque ela, num determinado jogo, não serviu os nossos interesses clubísticos. Dito isto, o sistema foi implementado, as regras definidas, estando tudo em condições de funcionar bem, não a contento de todos, que isso não existe, mas de ser um contributo decisivo rumo a uma maior verdade desportiva. E no entanto, em poucas semanas: num VitóriaEstoril, um estorilista, a fazer barreira, levanta ostensivamente o braço acima da cabeça. Bola batida que embate no braço. Árbitro nada assinala. VAR aconselha visionamento das imagens. Árbitro vê. Inexplicavelmente, não muda a decisão. No último Boavista-Vitória, jogador boavisteiro toca a bola com a mão. Árbitro marca penálti. VAR intervém e a decisão é mudada e assinalada falta fora da grande área. Pelas imagens que vemos é impossível alguém intelectualmente honesto dizer que a bola foi jogada fora da área. Num Boavista-Marítimo é assinalado um penálti por suposta mão de um maritimista. Consultado o VAR, mantém-se a decisão. Vemos as imagens e a bola não bate na mão. Num SportingFeirense, o Sporting marca golo que é anulado por intervenção do VAR, por causa de uma falta anterior. Pelo caminho, a bola tinha estado em posse dos feirenses. Estamos a falar de erros grosseiros. De erros indesculpáveis dos árbitros no terreno de jogo e do VAR. Quando são os próprios árbitros a errar descaradamente, não há sistema ou nova tecnologia que resista. Isso dito, uma palavra ao Conselho de Arbitragem. Que deve formar, avaliar e, se possível, punir os árbitros por erros que já não são desculpáveis. Se os árbitros não se conseguem adaptar, então que deixem de apitar. E finalmente, o que não pode fazer: escolher apenas um dos muitos erros grosseiros dos árbitros e fazer um comunicado só sobre um deles. Curiosamente, aquele que envolve um dos três do costume. Isso é que não.
Se os árbitros não se conseguem adaptar, então que deixem de apitar