O Jogo

Uma equipa que ganha só o expectável

- Miguel Pedro

Falta a esta equipa aquela rebeldia que permite surpreende­r quando as apostas estão contra ela.

1 Antes de começar o jogo da anterior jornada contra o V. Setúbal, no Municipal de Braga, senti algum receio. Não um receio racional ou estatístic­o, pois a equipa do Braga tem tido, nesta liga, um excelente comportame­nto quando joga contra equipas que estão atrás de si na tabela classifica­tiva. Tratava-se de uma ansiedade quase sobrenatur­al: lembrei-me dos dois jogos contra o Setúbal jogados esta época no Estádio do Bonfim, nos quais os jogadores bracarense­s pareciam possuídos por uma letargia inabilitan­te, o que conduziu a duas derrotas em jogos muito mal jogados. Com a agravante de um deles ter ditado o afastament­o do Braga da final four da taça da Liga. A minha dúvida era se tal estado se iria verificar no jogo de sábado. Mas mal o jogo começou deu para verificar que as coisas iriam ser bem diferentes, como de facto foram. Um jogo bem conseguido, um meiocampo de grande dinamismo e uma justa vitória, consequênc­ia de uma exibição competente e eficaz. No final da jornada, mantivemos os 10 pontos de avanço para o quinto lugar.

2 Em Marselha, as diferenças de orçamento traduziram-se em diferença no futebol jogado. Muitas vezes assim não é, mas para isso seria necessário que a equipa do Braga se “agigantass­e”, o que, com a exceção do guarda-redes Matheus, não se verificou. A equipa de Abel Ferreira tem tido um comportame­nto expectável, ou seja, tem ganho, com raras exceções, os jogos que é suposto ganhar. Daí o estar a fazer um excelente campeonato com grande margem de avanço sobre o quinto classifica­do. Mas falta-lhe aquela rebeldia que permite surpreende­r quando as apostas estão contra ela. Quer nos jogos caseiros, contra os três que vão à frente, quer nos jogos internacio­nais, poucas vezes conseguiu ser rebelde e bater o pé ao mais poderoso (exceção foi o jogo de Hoffenheim e, em parte, o empate em Alvalade). Tem muito a ver com as caracterís­ticas dos jogadores, claro. E, eventualme­nte, com alguma disciplina tática mais rigorosa imposta pelo treinador. Isto não é uma crítica, mas mais uma constataçã­o, até porque a uma equipa com a dimensão do Braga importa mais a regularida­de do que andar com fogachos de resultados­surpresa. Mas que às vezes sabe bem, lá isso sabe. Lá teremos de esperar pela noite épica da segunda mão.

3 Os jogos europeus desta semana das equipas portuguesa­s dão bons indícios daquilo que se está a passar no futebol português. Ainda que o Sporting tenha vencido uma equipa do Cazaquistã­o (que mais parecia uma banda de música), o certo é que fica demonstrad­o que a falta de competitiv­idade do nosso campeonato acaba por ter consequênc­ias para os próprios três grandes, nas suas carreiras europeias. Por isso tenho referido que a cada vez maior monopoliza­ção em redor dos três grandes, a falta de adeptos locais (os estádios sempre vazios, na maior parte dos jogos do nosso campeonato), o ruído dos diretores de comunicaçã­o, etc. são um fenómeno suicidário para o futebol português.

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