Uma equipa que ganha só o expectável
Falta a esta equipa aquela rebeldia que permite surpreender quando as apostas estão contra ela.
1 Antes de começar o jogo da anterior jornada contra o V. Setúbal, no Municipal de Braga, senti algum receio. Não um receio racional ou estatístico, pois a equipa do Braga tem tido, nesta liga, um excelente comportamento quando joga contra equipas que estão atrás de si na tabela classificativa. Tratava-se de uma ansiedade quase sobrenatural: lembrei-me dos dois jogos contra o Setúbal jogados esta época no Estádio do Bonfim, nos quais os jogadores bracarenses pareciam possuídos por uma letargia inabilitante, o que conduziu a duas derrotas em jogos muito mal jogados. Com a agravante de um deles ter ditado o afastamento do Braga da final four da taça da Liga. A minha dúvida era se tal estado se iria verificar no jogo de sábado. Mas mal o jogo começou deu para verificar que as coisas iriam ser bem diferentes, como de facto foram. Um jogo bem conseguido, um meiocampo de grande dinamismo e uma justa vitória, consequência de uma exibição competente e eficaz. No final da jornada, mantivemos os 10 pontos de avanço para o quinto lugar.
2 Em Marselha, as diferenças de orçamento traduziram-se em diferença no futebol jogado. Muitas vezes assim não é, mas para isso seria necessário que a equipa do Braga se “agigantasse”, o que, com a exceção do guarda-redes Matheus, não se verificou. A equipa de Abel Ferreira tem tido um comportamento expectável, ou seja, tem ganho, com raras exceções, os jogos que é suposto ganhar. Daí o estar a fazer um excelente campeonato com grande margem de avanço sobre o quinto classificado. Mas falta-lhe aquela rebeldia que permite surpreender quando as apostas estão contra ela. Quer nos jogos caseiros, contra os três que vão à frente, quer nos jogos internacionais, poucas vezes conseguiu ser rebelde e bater o pé ao mais poderoso (exceção foi o jogo de Hoffenheim e, em parte, o empate em Alvalade). Tem muito a ver com as características dos jogadores, claro. E, eventualmente, com alguma disciplina tática mais rigorosa imposta pelo treinador. Isto não é uma crítica, mas mais uma constatação, até porque a uma equipa com a dimensão do Braga importa mais a regularidade do que andar com fogachos de resultadossurpresa. Mas que às vezes sabe bem, lá isso sabe. Lá teremos de esperar pela noite épica da segunda mão.
3 Os jogos europeus desta semana das equipas portuguesas dão bons indícios daquilo que se está a passar no futebol português. Ainda que o Sporting tenha vencido uma equipa do Cazaquistão (que mais parecia uma banda de música), o certo é que fica demonstrado que a falta de competitividade do nosso campeonato acaba por ter consequências para os próprios três grandes, nas suas carreiras europeias. Por isso tenho referido que a cada vez maior monopolização em redor dos três grandes, a falta de adeptos locais (os estádios sempre vazios, na maior parte dos jogos do nosso campeonato), o ruído dos diretores de comunicação, etc. são um fenómeno suicidário para o futebol português.