PENSEM MELHOR Não é Bas Dost, é o princípio
Omais engraçado, nisto da renúncia de Bas Dost à seleção da Holanda, foi encontrar entre os críticos portugueses tantos daqueles que nunca põem o imperativo nacional em primeiro lugar. Nas provas de seleções, ou se estão nas tintas ou lhes são indiferentes, desde que os interesses do seu clube estejam protegidos. Nas competições europeias, torcem pela derrota dos rivais internos, colocando esse prazer pequenino à frente do ranking de Portugal. Estão no seu direito. Eu próprio já me deixei sentir como eles. Tive de pensar para educar esse sentimento. Mesmo assim, nunca me teria julgado capaz de fazer um julgamento moral sobre a atitude do avançado holandês. Com os anos, tornei-me um fervoroso adepto da Seleção Nacional. Devo-lhe algumas das minhas maiores alegrias futebolísticas, o que, aliás, é normal num sportinguista. Mas não só. A Seleção é aquilo que nos une. A Seleção é uma representação da nossa identidade. A Seleção escapa ao berreiro – são quase só virtudes. Apesar disso, pergunto: porque é que um jogador há de ser obrigado, legal ou mesmo moralmente, a representá-la? Porque é que um homem há de sequer representar o seu país, a não ser que o deseje? Para sermos nacionais desta ou daquela pátria, já temos um cartão de identidade e – muito importante – um cartão de contribuinte. Cidadão que se sustenta e ainda paga os seus impostos nem precisa de votar para ser um cidadão como os outros. Pessoalmente, não sei se estaria disponível para levar caneladas pelo meu país, que já me leva mais de 50% do rendimento em impostos e contribuições. Gosto de acreditar que sim, mas à terceira operação ao menisco não sei como seria. Por isso me comove tanto quem o faz: é uma generosidade de que nem todos seríamos capazes.