O Jogo

PENSEM MELHOR Não é Bas Dost, é o princípio

- Joel Neto neto.joel@gmail.com

Omais engraçado, nisto da renúncia de Bas Dost à seleção da Holanda, foi encontrar entre os críticos portuguese­s tantos daqueles que nunca põem o imperativo nacional em primeiro lugar. Nas provas de seleções, ou se estão nas tintas ou lhes são indiferent­es, desde que os interesses do seu clube estejam protegidos. Nas competiçõe­s europeias, torcem pela derrota dos rivais internos, colocando esse prazer pequenino à frente do ranking de Portugal. Estão no seu direito. Eu próprio já me deixei sentir como eles. Tive de pensar para educar esse sentimento. Mesmo assim, nunca me teria julgado capaz de fazer um julgamento moral sobre a atitude do avançado holandês. Com os anos, tornei-me um fervoroso adepto da Seleção Nacional. Devo-lhe algumas das minhas maiores alegrias futebolíst­icas, o que, aliás, é normal num sportingui­sta. Mas não só. A Seleção é aquilo que nos une. A Seleção é uma representa­ção da nossa identidade. A Seleção escapa ao berreiro – são quase só virtudes. Apesar disso, pergunto: porque é que um jogador há de ser obrigado, legal ou mesmo moralmente, a representá-la? Porque é que um homem há de sequer representa­r o seu país, a não ser que o deseje? Para sermos nacionais desta ou daquela pátria, já temos um cartão de identidade e – muito importante – um cartão de contribuin­te. Cidadão que se sustenta e ainda paga os seus impostos nem precisa de votar para ser um cidadão como os outros. Pessoalmen­te, não sei se estaria disponível para levar caneladas pelo meu país, que já me leva mais de 50% do rendimento em impostos e contribuiç­ões. Gosto de acreditar que sim, mas à terceira operação ao menisco não sei como seria. Por isso me comove tanto quem o faz: é uma generosida­de de que nem todos seríamos capazes.

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