“Tens as chuteiras erradas!” “Mas eu só tenho estas...”
Wallace é novo e franzino e, no primeiro jogo na Série B do Brasileirão, teve dificuldades em aguentar-se em pé. A razão era forte
Rogério Ceni, o mítico guarda-redes goleador, é agora técnico do Fortaleza e deparou-se com uma realidade nova quando chamou a atenção de um jogador que escorregara várias vezes no campo
Arrancou o campeonato da Série Be Rogério Ceni, ex guarda-redes famoso por fazer golos às dezenas de livre direto e figura grande do São Paulo, é agora treinador do Fortaleza. Na estreia do campeonato guiou a equipa a uma vitória sobre o Guarani, mas no final emocionou-se e tinha uma história para contar.
Ceni é proveniente do grande futebol brasileiro, jogou 25 (!) épocas consecutivas no São Paulo, foi internacional, coleciona títulos coletivos e recordes individuais. No final de 2015, quando deixou de jogar, tornou-se adjunto de Dunga na seleção do Brasil e um ano depois, em 2017, assumiu o comando do São Paulo, onde ficou um ano. Claramente não estava preparado para o que o esperava em Fortaleza. Daí ter-se comovido com a história de Wallace, médio de 19 anos a quem deu uma bronca por andar sempre a cair. Por isso mesmo a contou na sala de Imprensa após a vitória (2-0) sobre o Guarani.
“Eu ainda acho que ele é muito tímido, ele caía demais durante o jogo. Na hora que entrei no balneário, falei que ele estava jogando com a chuteira errada, mas ele disse: ‘Eu só tenho estas.’ Para você ver comoéo futebol. Sempre tem pessoas humildes, bacanas. Vamos providenciar chute iras com as travas [pitons] corretas para que ele não escorregue mais.”
Wallace, de 19 anos, foi contratado há uma semana e mereceu a confiança de Ceni. Acontece ser de origem humilde e só ter aquelas chuteiras, de pitons de borracha, adquiridas por 400 reais (95 euros). Uma complicação para quem tem de jogar em terreno molhado. A intervenção do treinador acabará rapidamente com a míngua de calçado do médio, mas até o processo para ter aquelas botas foi complicado.
Após a estreia – foi suplente mas entrou a meio da segunda parte – acedeu dar uma entrevista ao “GloboEsporte”, mas respondeu a mais perguntas por SMS do que cara a cara. Não gosta de falar. Ainda as- sim, contou ter nascido em frente a um campo de futebol e a tentação era irresistível. “Não tinha como não jogar. Saía à rua e via o campo. É a única coisa que sei fazer. A minha mãe, para não me chamar burro, diz que eu penso com as pernas”, contou.
A partir dos 13 anos fez testes em clubes como São Paulo ou Corinthians e até no Fortaleza, que agora foi buscá-lo por empréstimo ao Floresta Esporte Clube, que disputa o estadual cearense. Já no anterior clube escorregava em dias de chuva e as chuteiras eram as mesmas, agora cada vez mais gastas.