RETRATO DE UM DURO
MAREGA o avançado que só sabe dar 100%, pelos olhos de quem o conhece
ALEX SOARES lembra Taça da Liga contra o Benfica “Estava com dores, mas quem sofreu foram Jardel e Luisão” jogou com ele em Guimarães e garante “Tem uma enorme capacidade para suportar a dor”
FRANSÉRGIO fala de um superatleta “Nem nos treinos é possível colocar-lhe um travão”
TOZÉ
O episódio no jogo contra o V. Setúbal já aconteceu antes, numa final da Taça da Liga que disputou pelo Marítimo com o Benfica. Primeiro queixou-se, mas depois foram Luisão e Jardel a ter problemas
O Dragão tremeu quando, aos 20 minutos do jogo com o V. Setúbal, Marega se dirigiu ao banco de suplentes com queixas na face posterior da coxa direita. O FC Porto vencia por 3-0, mas o mais importante nem era isso. Parece exagerado falar na dependência do maliano, mas os portistas lembram-se bem do que passaram em Paços de Ferreira e no Restelo. Jogar nos Barreiros também sem Marega, naquele que é visto como o jogo mais difícil dos três na caminhada para o título, foi susto suficiente para que a bancada clamasse a substituição do jogador. Fransérgio, médio do Braga, estava a ver pela televisão, mas teve a certeza de que isso não aconteceria. “Disse logo que ele ia continuar. Não é a primeira vez. Aconteceu no Marítimo, na final da Taça da Liga 2014/15, contra o Benfica”, recordou. Alex Soares, que também jogava nessa equipa, lembra-se bem. “Ele queixou-se na primeira parte, mas no final quem se queixou foram Luisão e Jardel, porque ele continuou a jogar ao ritmo dele, com muito andamento e foi uma dor de cabeça para aqueles centrais”, riu. O episódio acaba por confirmar as suspeitas: Marega é um superatleta. E quem o conhece bem salvaguarda que a força física é só o espelho da mental. “Será esse o segredo. Mentalmente é tão forte como fisicamente”, aponta Tozé, que há um ano estava com o portista em Guimarães.
Marega também na Luz se queixou de dores. E também então continuou em campo. O avançado passa, nesta altura, por uma fase em que quer tanto ajudar a equipa a ser campeã que tem receio de não conseguir mais. Esta temporada já sofreu duas lesões musculares e qualquer dor é motivo de alarme. Para os colegas também. Brahimi pediulhe calma. Sérgio Oliveira e Herrera também o aconselharam a moderar o esforço. Mas essa é tarefa impossível. “A mentalidade leva-o a querer superar a dor em campo. Ele quer estar lá dentro, aparecer. E não o sabe fazer a meio-termo. Em campo quer ir sempre até ao limite. Cabe a quem está com ele tentar controlálo”, comenta Tozé, que agora se destaca no Moreirense.
Veículo de alto rendimento com duas reservas
Fransérgio sabe bem que quando Brahimi pediu calma a Marega este não ia cumprir. “Se é para jogar a 50% ou a 70% não é para ele. Qualquer lance, em qualquer minuto, é no limite. Seja jogo ou treino. Ele tem sempre força”, sublinha, usando até um exemplo curioso. “Comparoo com um carro que fica sem combustível. O carro tem uma reserva. Marega tem uma reserva à reserva”, ri. Sérgio Conceição também sabe que o avançado não deixará de jogar nos limites mesmo com o jogo ganho. E por isso substituiu-o aos 63’. Mas o africano não gostou nada... “Ele não se limita, não se poupa a esforços, não mete limites. O que ele pode fazer é uma questão física, mas pode optar por se resguardar e isso não acontece, porque também é muito competitivo e isso é mental. É por ser competitivo que quer sempre participar”, conclui Alex Soares.