O Jogo

O FUTSAL QUE RELUZ COMO OURO

- CLÁUDIA OLIVEIRA

Sete anos após a criação do Clube Atitudes Traquinas Os Afonsinhos, o grupo pôs o país a olhar para o interior na Gala Quinas de Ouro, da FPF. Mais que futsal, ensinam-se valores e valoriza-se o estudo

“Somos do distrito de Viseu, concelho de Resende, freguesia de S. Martinho de Mouros, que acredito muita gente não conhece. Para além das cavacas de Resende, das melhores cerejas do mundo, agora somos de S. Martinho de Mouros e somos Quinas de Ouro.” Foi desta forma que Marcos Antunes agradeceu o reconhecim­entodaFede­ração Portuguesa de Futebol ao Clube Afonsinhos, na gala de 19 de março. O prémio de mérito escolar, recebido em conjunto com o centro escolar da localidade, premeia o exemplo vindo do interior.

O JOGO já conhecia Os Afonsinhos – as cavacas e as cerejas também – mas quisemos avaliar o cresciment­o deste clube que nasceu há sete anos pela tenacidade de Marcos Antunes, com seis crianças, e hoje já tem 70 atletas federados.

Para lá da entrada do pavilhão – praticamen­te sem uso até à formação do clube –, pretende-se formar cidadãos em todas as vertentes. O estudo é, de facto, uma das que mais atenção merece. “Quem tem negativas não joga e foi assim desde o início. Treinam, mas não são convocados. É duro, até para mim! Agora inauguramo­s uma sala que nos vai dar uma ajuda grande, vão poder ter apoio ao estudo, com professore­s. Os colegas mais velhos, normalment­e, ajudam os mais novos. Associamos a isso os valores do respeito e do trabalho”, explica Marcos Antunes, treinador e fundador do clube. Esta é uma regra bem aceite pelos atletas. “É justo. Se queremos jogar temos de nos aplicar também nos estudos. Não pode ser só pensar na bola e deixar a melhor parte para trás”, considera Cristiana, de 14 anos, e única atleta feminina no grupo.

Carlos Ferreira, da mesma idade, também concorda com a norma. “Raramente temos colegas que ficam de fora pelas negativas. Quando há, incentivam­os a estudar”, conta. Na verdade, nos Afonsinhos ninguém fica para trás, até porque, como diz o hashtag do painel da entrada #aquinãoésm­aisum. Por isso, quando um atleta de sete anos não conseguiu assinar a ficha

“No desporto há a vantagem de conseguir algumas coisas que de outra maneira não conseguimo­s”

Marcos Antunes

de inscrição para ser federado, os dirigentes estiveram duas semanas a ensiná-lo a escrever o nome. Quando um atleta do nono ano tirou nove negativas no primeiro período, o clube incentivou-o. “No terceiro período passou de ano com uma negativa”, lembra Marcos.

“No desporto temos a vantagemde­conseguira­lgumascois­as que de outra maneira não conseguimo­s atingir. Incutir regras para saberem que se quiserem atingir alguma coisa que desejam muito – neste caso é jogar futsal – também têm deveres a cumprir”, explica o fundador.

“Se queremos jogar, temos de nos aplicar nos estudos. Não pode ser só pensar na bola e deixar o melhor para trás”

“A regra das negativas é justa”

Cristiana (Cris)

14 anos

“Raramente temos colegas que ficam de fora pelas negativas. Quando há, incentivam­os a estudar”

“Dentro do campo somos todos iguais”

Carlos Ferreira

14 anos

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