Guerreiro chora ao recordar as bombas de há um ano
Internacional português foi chamado a testemunhar no processo do atentado contra o autocarro do Borússia Dortmund
Oito jogadores foram ao tribunal contar o que sentiram quando três engenhos explodiram perto do autocarro do Borússia Dortmund. Bürki confessou que continua assustado
Recordar as bombas a explodir junto ao autocarro continua ser um ato penoso para quem viveu o drama. Por isso mesmo ontem o internacional português Raphael Guerreiro chorou no tribunal e o guarda-redes suíço Bürki confessou que continua assustado.
Foi a 11 de abril de 2017 que três engenhos explosivos deflagraram junto do autocarro do Borússia Dortmund, que cumpria o trajeto do hotel para o estádio, onde deveria defrontar o Mónaco em jogo a contar para os quartos de final da Liga dos Campeões. O central espanhol Marc Bartra ficou ferido e o jogo foi adiado para a tarde do dia seguinte.
A polícia alemã, que encontrou quatro cartas (falsas), em menos de 24 horas deteve um cidadão iraquiano de 25 anos referenciado como tendo ligações ao fundamentalismo islâmico, mas libertou-o pouco depois. A 21 de abril foi preso Serguei W., um germano-russo de 28 anos que viria a confessar a autoria dos atentados. Confessou a colocação dos explosivos mas garantiu que não pretendia ferir ninguém, mas fazer baixar o preço das ações do clube. Nesse dia, através de um crédito, tinha comprado em aberto 15 mil ações do clube por 78 mil euros. Contava ganhar 3,9 milhões se fosse bem-sucedido.
Como é difícil testemunhar
Desde que o processo começou a ser julgado, todos os ocupantes do autocarro têm sido chamados a testemunhar. Ontem for amoito jogadores, destacando-se os depoimentos emotivos de Raphael Guerreiro e do guarda-redes Bürki.
O português percebeu no tribunal que não tem o caso bem resolvido na cabeça. Com os olhos marejados de lágrimas, Guerreiro confessou que achava que tudo tinha terminado naquele dia 11 de abril, que tinha ficado para trás, mas agora, ao ter de recordar o momento, todas as más sensações estavam de volta. “É muito difícil falar sobre isso aqui”, afirmou. Lembra-se de ouvir “um grande estrondo” e os gritos de dor do companheiro Marc Bartra. Pensou que era uma tentativa de assassinato. “Estávamos todos assustados e baixados, ninguém conseguia perceber o que se passava fora do autocarro.”
Os tiros que não eram e o medo dos barulhos
Sokratis Papastathopoulos pensou noutro tipo de atentado: “Estava com medo, pensei que estavam a disparar sobre nós.” O grego disse ainda aos juízes que acredita ter conseguido processar as memórias ruins. “Nunca vou esquecer, mas decidi que a vida continua”, disse.
O guarda-redes Roman Bürki continua a não lidar bem com barulhos inesperados. “Sempre que alguém nas minhas costas deixa cair qualquer coisa fico muito irritado.” O internacional suíço confessa que pula, fica inquieto e até as chegadas ao estádio são agora diferentes. “Se hoje alguém bate com mais força do lado de fora do autocarro salto de uma forma diferente do que acontecia antes.”
Julian Weigl, Nuri Sahin, Cristian Pulisic, Lukasz Piszczek e Shinji Kagawa, os outros futebolistas ouvidos ontem, dizem ter ultrapassado o problema, mas houve momentos complicados. Kagawa, por exemplo, começou por ficar calado na frente dos juízes e disse depois que durante duas semanas tinha medo de estar em casa ou de andar de carro.