QUANTO VALE JESUS? Talvez nem tanto nem tão pouco
ejo Jesus deixar o Sporting no papel de mártir e não consigo resistir a pôr o assunto em perspetiva. A principal responsabilidade pelo ponto a que o clube chegou pertence a Bruno de Carvalho. Foi ele quem instalou o ambiente de que podia ter resultado até um novo “caso Escobar”. Mas Jesus também falhou. Não falhou na atmosfera que criou. Falhou nos resultados desportivos. Falhou na gestão do plantel e na escolha das contratações. Falhou na comunicação – não tão dramaticamente como o presidente, mas com clareza também. Só não falhou na proteção da sua conta bancária e, derradeiramente, na gestão da sua própria imagem. Jesus dispôs no Sporting de meios de que nenhum outro treinador, pelo menos desde Boloni, dispusera. Quase ganhou a Liga no primeiro ano, e teria sido épico. Não teve hipóteses no segundo, o que já foi um fracasso. E quando Bruno de Carvalho deitou tudo a perder no terceiro, já ele próprio tinha hipotecado o título. Há de queixar-se para o resto da vida de que teve de trabalhar com um presidente maluco (estou mesmo a ver a expressão) e, bem vistas as coisas, muito golpes amparou. Lá terá as suas razões para reclamá-lo. Mas, nesse caso, talvez devesse ter alertado para o problema quando já o tinha podido identificar e nós ainda não. O que não fez, em última análise, para proteger a sua conta bancária também. A verdade é essa. Agora vai para as arábias, imagino que na expectativa de que a ascensão de Sérgio Conceição lhe dê uma oportunidade no FC Porto. Talvez o casamento ainda aconteça e se revele tão feliz como sempre imaginámos que seria. Mas agora parece-me menos certo de que dê esse monte de títulos que um dia previmos.