ELES AÍ ESTÃO
Soltaram-se os chacais
Protege-o a memória do chamado Verão Quente, mas protege-o mais ainda o facto de o futebol há muito se ter consumado como um epítome do capitalismo, onde tudo se compra e vende, nenhuma oportunidade de negócio é mais censurável do que outra e tolo será aquele que não aproveitar as fragilidades do adversário para o destruir. Não foi Vieira quem o impôs: foram todos os agentes do futebol contemporâneo, e aliás com a nossa aprovação (até com o nosso louvor). Mas foi Vieira quem primeiro prometeu passar da tentação aos atos, e isso tem uma expressão. A disponibilidade do Benfica para contratar jogadores acabados de rescindir com o Sporting não é um ajuste de contas histórico, muito menos um tributo a uma triste tradição entre os dois clubes: é um oportunismo, um cinismo e uma irresponsabilidade. Depois de cinco anos em que conquistou quatro títulos de campeão e um de vice-campeão, o Benfica podia dar-se ao luxo de um gesto de magnanimidade. Pelo contrário, prefere fazer vingar o lado mais vil da rivalidade económica – disfarçada de rivalidade desportiva, populismo que nem Bruno de Carvalho chegou a praticar – e dar a machadada final nas relações entre os dois clubes. Haja contratações e os derbies vão subir novamente de tom. Desta vez, BdC não será o único culpado. Bem vistas as coisas, nunca foi, mesmo que o identifiquemos com o anticristo (e ainda que tenhamos razão). Se o futebol português chegou a este clima foi porque os seus principais responsáveis não só deixaram, mas quiseram. Todos. E o Benfica de Vieira vem prosperando neste deplorável ambiente, pelo que tem de ter alguma vocação para ele. Resta-nos esperar que pelo menos alguns jogadores tenham juízo, já que não se pode contar com os agentes também.