UM MUNDIAL TRISTE A verdade é essa
Não me lembro de outra grande competição de seleções, ademais com Portugal em campo, que arrancasse tão longe do nosso radar. Na noite de Santo António, terça-feira, entrei num café de um bairro de Lisboa, uma daquelas tabernas populares onde as pessoas se conhecem pelo nome e se fala de futebol aos berros, e dei pelos machos ao balcão a discutir o início do Mundial sem que um só conseguisse decidir-se sobre em que dia começava a competição, e menos ainda sobre aquele em que Portugal se estreava. Não têm sido só eles: temos sido nós todos. Têm sido os próprios jornais. Ou muito me engano ou se Lopetegui não tivesse sido despedido ontem, não chegávamos sequer a lembrarmo-nos de que faltavam apenas dois dias (agora um) para defrontarmos Espanha. Infelizmente, não pode mesmo ser de outra maneira. Um dos três maiores clubes portugueses está a ser destruído pela sua própria elite dirigente. E pelo menos um dos seus adversários pretende agora alimentar-se desse sangue. Como aliviar no escrutínio do que se passa em Alvalade? Aliás, talvez a preocupação mais responsável tenha mesmo de ser a contrária. Como os políticos ainda há dias aproveitaram o Festival da Canção para aumentarem os seus vencimentos: o que aproveitarão agora os dirigentes dos clubes portugueses para fazer, a coberto da excitação – mesmo que vaga, mesmo que muito mais vaga do que devia ser – do início dos jogos? Que género de paz poderemos nós permitir-nos depois de tanto o futebol como o próprio país nos terem mostrado tão claramente que tudo pode, de facto, acontecer? Tive esperança de que isto não chegasse aqui. Infelizmente, este Mundial não será como os outros. E logo aquele a que chegamos como campeões da Europa...