O Jogo

UM MUNDIAL TRISTE A verdade é essa

- Joel Neto neto.joel@gmail.com

Não me lembro de outra grande competição de seleções, ademais com Portugal em campo, que arrancasse tão longe do nosso radar. Na noite de Santo António, terça-feira, entrei num café de um bairro de Lisboa, uma daquelas tabernas populares onde as pessoas se conhecem pelo nome e se fala de futebol aos berros, e dei pelos machos ao balcão a discutir o início do Mundial sem que um só conseguiss­e decidir-se sobre em que dia começava a competição, e menos ainda sobre aquele em que Portugal se estreava. Não têm sido só eles: temos sido nós todos. Têm sido os próprios jornais. Ou muito me engano ou se Lopetegui não tivesse sido despedido ontem, não chegávamos sequer a lembrarmo-nos de que faltavam apenas dois dias (agora um) para defrontarm­os Espanha. Infelizmen­te, não pode mesmo ser de outra maneira. Um dos três maiores clubes portuguese­s está a ser destruído pela sua própria elite dirigente. E pelo menos um dos seus adversário­s pretende agora alimentar-se desse sangue. Como aliviar no escrutínio do que se passa em Alvalade? Aliás, talvez a preocupaçã­o mais responsáve­l tenha mesmo de ser a contrária. Como os políticos ainda há dias aproveitar­am o Festival da Canção para aumentarem os seus vencimento­s: o que aproveitar­ão agora os dirigentes dos clubes portuguese­s para fazer, a coberto da excitação – mesmo que vaga, mesmo que muito mais vaga do que devia ser – do início dos jogos? Que género de paz poderemos nós permitir-nos depois de tanto o futebol como o próprio país nos terem mostrado tão claramente que tudo pode, de facto, acontecer? Tive esperança de que isto não chegasse aqui. Infelizmen­te, este Mundial não será como os outros. E logo aquele a que chegamos como campeões da Europa...

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