FAZER PIMENTAS A PREÇO DE SALDO
CANOAGEM Limiano pode assumir-se de vez como o melhor do mundo em agosto, mas falta verba para formar sucessores
Na última década, o canoísta do Benfica esteve em 68 % dos pódios lusos em grandes provas. Encontrar um fenómeno assim é difícil, tendo a federação menos de 300 mil euros para o fazer
Descrito como focado, determinado ou ambicioso, Fernando Pimenta detém um palmarés impressionante aos 28 anos, sendo tricampeão europeu de K1 1000 metros (distância olímpica) e totalizando 76 medalhas em competições internacionais. Seis delas foram conquistadas já esta época (três na primeira Taça do Mundo e outras tantas no Europeu), o que faz dele o melhor canoísta mundial da atualidade, estatuto que ninguém lhe negará se somar mais títulos nos Jogos do Mediterrâneo do próximo fim de semanae,sobretudo,noMundial que Portugal receberá em agosto pela primeira vez. A preparar Tóquio’2020, depois de ter sido prata em Londres’2012, em equipa com Emanuel Silva, o limiano do Benfica ainda estará a caminho do seu melhor, mas a canoagem já vai pensando num futuro que lhe permita ter mais do que o fenómeno que esteve em 68% dos pódios nacionais em grandes competições na última década.
Ficar “refém” de uma grande figura ou geração e depois perder fulgor tem acontecido a várias modalidades e o relatório da Missão Olímpica no Rio’2016reconheceuesseproblema no desporto português, ao referir que “os casos de sucesso ainda são fruto de inicia- tivas isoladas ou de gerações espontâneas”. A canoagem está atenta e, para o treinador de sempre do tricampeão europeu e campeão mundial de K1 5000 metros, Hélio Lucas, existem “alguns atletas com características parecidas às do Fernando, mas, para já, ainda nenhum com os resultados que ele obteve como júnior”, enquanto o presidente da Federação, Vítor Félix, lembra que “entre o José Garcia, que tinha sido uma referência, e o Fernando Pimenta, foi preciso esperar 20 anos”.
Concluído o Europeu de Belgrado, subiu para 13 o número de atletas integrados no Projeto Olímpico para Tóquio’2020, seis deles com 24 anos ou menos (David Varela, Francisca Laia, Márcia Aldeias, Bruno Afonso, Marco Apura e Messias Baptista), mas há outras promessas referenciadas: Francisca Carvalho, uma sub23 que na Taça do Mundo deste ano fez parte do K4 feminino principal (em substituição de Márcia Aldeias); Maria Rei, júnior que esta época tem treinado com as seniores; ou César Soares, cadete já apurado para os Jogos Olímpicos da Juventude, evento onde Pimenta deu nas vistas pela primeira vez, em 2005. No entanto, há valoresqueseperderam, como Diogo Lopes, vice-campeão mundial de juniores de K1 200
“Não temos capacidade financeira para levar todos a competições internacionais, só levamos os que podem lutar por finais” Ricardo Machado Diretor técnico nacional
em 2013, que deixou a alta competição. “Quando passou a sénior, não conseguiu ter o mesmo sucesso. Na transição de júnior para sénior o impacto é muito grande e foi desanimando”, esclarece o diretor técnico nacional, Ricardo Machado, tocando num dos grandesproblemas: “Infelizmente, quando chegam a seniores, há atletas que têm o lugar tapado. No K4 só podemos ter quatro, no K1 só entra um... E não temos capacidade financeira para levar todos a competições internacionais, só levamos os que podem lutar por finais. A fasquia é muito elevada, por falta de financiamento.”
Altamente dependente do
apoio estatal, como assume o líder Vítor Félix, a Federação Portuguesa de Canoagem nunca teve um aumento de verbas proporcional aos resultados. Os pódios internacionais têm sido regulares de 2010 até ao presente, mas só houve uma variação de 66 mil euros no dinheiro atribuído pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude em contratos-programa de atividade regular em oito anos. Em 2018, a modalidade recebe 465 mil euros, 293 mil direcionados para as Seleções Nacionais. Um valor curto para quem fabrica os nossos novos campeões mundiais e quiçá olímpicos.